MUCHINGADA
Noite quente, a reunião costumeira não acontecia na porta de casa, procurei pelos moleques e não os encontrei, achei estranho aquele silencio todo, pois de costume, eles sempre estavam na porta de casa, jogando conversa fora.
Nessa época eu deveria ter uns onze anos e moleque quando não encontra os de sua raça, sabe que alguma coisa esta acontecendo, sendo assim, resolvi ir atrás.
Na rua que eu morava, tinha um grande terreno pertencente a um português, o seu Augusto, grosso como ele só, era avó do Louro, um colega meu que já foi citado outras vezes. Nesse terreno, eram cultivadas verduras e legumes de todo o tipo e em certo pedaço, o português estava construindo umas casinhas para alugar, duas já estavam prontas e uma delas só faltava fixar a porta da frente, fui seguindo o rastro e logo vi, aquele ajuntamento de moleques olhando pelas frestas da casa perguntei o que estava acontecendo e me disseram que tinha um cara transando com uma mulher, ficamos olhando a sacanagem, quando derrepente me passou pela idéia, de dar um susto no casal, e imitando o velho português, eu gritei do lado de fora - O CURALHO O QUE É QUE ESTA ACONTECENDO AI? Em seguida dei uma bicuda na porta, que por não estar presa, veio abaixo fazendo um estrondo que parecia estar caindo a casa.
Amigos, o susto foi tão grande, que o cara saiu de cima da mulher a mil por hora, ele não sabia se vestia o short, se ajudava a mulher a se vestir, tentava pular pela janela e acabou caindo de cara no meio da lama, esqueceu mulher e tudo. Ela por sua vez, deixou calcinha, sutiã, e no meio de tanta correia, foi parar no chiqueiro do porco, a gente claro, explodia de tanto rir.
Com tanta sacanagem e gritaria, acabamos por acordar o velho português que veio lá de dentro de sua casa com a muchinga (espécie de chicote, feito com o umbigo do boi, dói que é uma desgraça) na mão e gritando – Seus curalhos o que vocês estão fazendo ai? Só que agora era de verdade e a muchingada corria solta no coro da molecada, era tanto ai, ai, ai, era moleque correndo para um lado e para o outro.
Depois de tudo isso, voltamos para frente de casa e reunidos de novo, ficávamos encarnando um no outro e rindo sem parar, eram horas inesquecíveis de uma alegria despreocupada e que só acabava com o chamado das mães que diziam – Vamos entrar que amanha tem aula!