CAROLA O CAIPIRA MENTIROSO

Seu apelido de carola foi um desperdício. Sua genitora essa sim poderia vangloriar com o apelido coso o tivesse recebido ao invés do filho que se chamava Pedro. Não tinha nada a ver com carola,ao contrário foi muito temido, pelo físico avantajado e sua fama de arruaceiro.

A mãe deixou marcas profundas impregnadas na conduta moral de religiosidade de nossa gente como catequista evangelizadora. Foi uma personagem querida e respeitada pela comunidade.

Pedrinho da Belchior, ou seja, o carola como ficou conhecido, talvez tenha sido o cara mais mentiroso de todos os tempos que conhecemos. A mãe tentou dar-lhe uma educação semelhante a sua, mas o máximo que conseguiu foi que ele esfolasse um pouco as quinas do analfabetismo. Aprendeu mal a rabiscar o nome, para ler era um desastre, parecia tropel de cavalo ruim de sela trotando em calçamento de pedras.

Algumas vezes se atreveu a trabalhar fora, ora no corte de cana em Lagoa da Prata, ora como vigia numa empresa de coletivos de um conterrâneo em BH. Voltava contando cada mentira daquela de fazer urubu vomitar.

Certo dia a moto de um tenente que trafegava numa viagem de Martinho Campos a Bom Despacho, sofreu uma pane próximo ao Engenho, na época o movimento de veículo era mínimo. Seu condutor dirigiu a pé até ao povoado em busca de socorro, encontrou carola na entrada da rua.

--Bom dia cidadão, sabe me informar aonde eu posso encontra um mecânico nestas imediações, minha moto estragou a cerca de um quilometro daqui.

--Ocê deu mais sorte que porco no chiquero dimanhâ cêdo, ta falano cum o própo, vô só ali na venda bebê um cunhaque mode cumbatê a difrucêra e tô pronto mode í quebrá seu gaio.

- Ótimo, vamos lá pago pra você!

- Dirigiram até a venda!

-- Sabe dua coisa já qui ocê vai pagá memo, vô apuveità e pegá logo um litro pode cê?

--Perfeitamente a sua vontade!

--Carola pediu um litro de conhaque o tenente pagou, ele bebeu logo um dose dupla no peito. Seu único irmão passava na rua no momento, ele diz--, ocê leva esse litro e guarda pamode nois cumbatê a difrucêra, ieu vô ali inrriba da ua mão esse moço!

Saíram os dois, chegando La, o carola pegou as chaves que o cidadão carregava desmontou o que deu da moto, esparramou peça por todo lado, como não entendia bulhufas nenhuma de mecânica, falou para o cidadão

- Ocê mim ispera ai um tiquinho, ieu vô ali no mato mode fazê ua pricisão gurica memo to de vorta já achei o defeito agora é só amuntá traveis,e cocê pode rasgá!

O homem esperou mais de hora e meia, por sorte passou um conhecido numa caminhonete, ofereceu ajuda. Ele juntou as peças jogou na caçamba e desceram até a venda. Perguntou ao vendeiro, pelo mecânico se o tinha visto!

-- Que mecânico moço?

--Aquele que paguei o litro de conhaque para ele?

--kakakakaka. O carola? Aquilo é o cara mais mentiroso do mundo meu senhor, ele nunca foi mecânico, mas afirma ser capaz de dar nó em goteira subir em poste de marcha a ré montando numa moto, opera cavalo a de apendicite e daí por diante, o melhor que o senhor tem a fazer é seguir viagem, aquilo escorrega mais que bolinha de gude untada de sabão preto!

-- Me fás um favor, então diga a aquele pilantra para nunca mais cruzar meu caminho, porque se eu bater com os lhos nele não vai sobrar nem um dente em sua boca!

--Terei imenso prazer em dar seu recado, mas melhor pensar noutro castigo, porque dente -, ele não tem mais nenhum, já mentiu tanto na vida que perdeu todos eles!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 06/05/2013
Reeditado em 06/05/2013
Código do texto: T4276487
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