UM MENTIROSO NO DIA 1º DE ABRIL

No século passado, La pelos anos cinqüenta, Bom Despacho era uma pacata cidadezinha de ruas descalças, com poucos veículos motorizados dividindo espaço com as carroças e carros de boi que abasteciam de lenha as cozinhas das residências que içavam fumaça de suas chaminés. Televisão ninguém sonhava com a sua existência. Telefone alguns, a pilha, da cidade para as fazendas dos mais abastados, a exemplo do célebre DR. Miguel Gontijo médico competente e conceituado, que era reverenciado com o titulo de pai dos pobres, tamanha a sua generosidade.

Foião um militar bondespachense que também marcou sua passagem na historia, embora de forma diferente; com as mais pitorescas mentiras. Casado com a Sanica, uma mulher de aparência frágil, mas muito guerreira. Natural do Engenho do Ribeiro e descendente de uma nobre família, enfrentou anos difíceis em que as donas de casas teriam que ralar na dureza da vida para criar os filhos cozinhando em fogão de lenha, lavando roupas na unha, com o tradicional sabão preto, fabricado por elas mesmas, passando-as com ferro de braza. Sem um mínimo de conforto.

Foião alem de militar era mecânico de automóveis em horas vagas, Profissão que pouco rendia a cidade pequena com uma frota de veículo quase insignificante. Sanica passou por muitos apuros com tamanhas dificuldades, mas uma verdadeira heroína venceu com perseverança e dignidade.

Foião nasceu com o dom da mentira. Contava cada mentira cabeluda daquelas de arrepiar. Ficou famoso de verdade, na arte da inverdade. Era 1º de abril e ele descia a avenida das palmeiras. Defronte a conceituada oficina do Piruca, um grupo de amigos conversava, alguém entre eles o abordou:

- Oh Foião que bom ti ver companheiro, hoje é seu dia-, venha contar uma mentira pra gente!

-- Não posso to indo La carpintaria do Dito Prudente buscar um par de muletas para o nosso Vigário!

O que aconteceu com o padre cara?

-- Então ocê não soube, ele ciaiu do pulpito e quebrou a perda domingo passado. Passei por lá para confessar, ele me pediu que buscasse as tais muletas, ele tem pressa, por que o comandante do 7º Batalhão acabou de morrer, ele vai pra lá, levar seu apoio espiritual à familia do falecido!

Foião seguiu seu trajeto. Na época não havia telefone na cidade, e a noticia da morte do comandante espalhou como rastilho de pólvora. Em pouco tempo uma multidão se aglomerou na casa do comandante, assustado e nervoso, ele mandou levantar a origem do boato. Chegou-se ao Foião. Interrogado pelo comandante, ele deu sua versão:

-- Olha senhor, não tenho culpa, estava eu descendo rua abaixo, nem vi quem me chamou, me pedindo para contar uma mentira dizendo ser 1º de abril eu aproveitei a ocasião contei três!

-- Pois muito bem já que não tem culpa seu castigo será menor vai ser apenas duas semanas recolhido aqui no batalhão rachando com um machado, as toras de madeiras que estão acumuladas no pátio da padaria para aquecer o seu forno.

e ouça uma coisa,

Tu nunca esqueças essa lição

Coloque isso na sua cuca

A mentira é lixo do pensamento

É uma verdadeira arapuca

Um detrito que a mente expele

Às vezes nalgum momento

Estando tu em apuros

Pode ser que te salve a pele!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 01/04/2013
Reeditado em 01/04/2013
Código do texto: T4217829
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