146 – CONJECTURAS...

Naquele restaurante ela adentrou trôpega, bêbada, e um tanto impertinente, passou por nós e se dirigiu a uma mesa localizada a certa distância da nossa, ocupada por um solitário Senhor que calmamente bebia o seu vinho e lambiscava pedaços de queijo, e a desconhecida sem nenhuma cerimônia, num desconcerto surpreendente, colocando as mãos na cintura foi logo perguntando:

- Se eu dançar pra você, você me paga o jantar?

E inesperadamente se pós a rebolar, esbarrando em algumas cadeiras e mesas, quase caiu, mas se firmou naquela dança desengonçada, amalucada e sem sentido.

Os seguranças acompanhados de alguns garçons a agarraram pelos braços com uma truculência desnecessária, pois a mesma não oferecia resistência alguma, e aos empurrões a conduziam para fora do recinto quando aquele senhor se levantou e os alcançando, disse:

- Ela é minha convidada, vai jantar comigo!

Boquiabertos e não acreditando no que ouviam, os seguranças persistiam em colocar a mulher pra fora, e mais uma vez aquele Senhor insistiu:

- Por favor, a deixem em paz, ela vai jantar comigo!

E gentilmente a conduziu até a sua mesa!

E ela um tanto assustada parecia não acreditar no que via e ouvia, agora, já com a postura de uma dama séria se sentou sem criar problemas, murmurou algumas palavras inaudíveis, mas no seguir, eu cheio de curiosidade me pus a escutar tudo que era falado naquela mesa.

– Posso pedir o que quiser para o jantar?

– Sim!

– Então eu quero um filé de salmão grelhado e um copo de vinho! Quero matar a saudade de um tempo em que tudo isto era me oferecido de graça, quando tudo isto era colocado ao meu alcance e eu me achava a rainha da noite, tinha aos meus pés um bando de rapazes apaixonados.

Assim que foi servido o jantar, ela apressadamente se servia, seu nariz quase tocava no prato, cabisbaixa, neste momento era de pouca conversa, parecendo que não mastigava os alimentos, mas que os engolia em grandes porções, e aquele Senhor a observava atentamente, ternamente, era como se a conhecesse há muito tempo, era como que fosse uma velha amiga que depois de muito tempo distante, num repente aparecesse para alegrar o seu jantar.

Abruptamente ela se levantou, sem se despedir, sem agradecer, sem nada dizer, saiu trôpega, um tanto cambaleante, espavorida, lá fora do recinto do restaurante mais rapidamente ela caminhou na direção de uma árvore, e nesta se apoiou, respirava ofegante, levantava os braços, contorcia, passava a mão no abdome, na certa estava passando mal, mas muito mal, quando num repente se pós a vomitar, e vomitou tudo o que tinha jantado, agora um tanto desfalecida, balançante, cabisbaixa foi se afastando, mas de vez em quando dava uma parada, a desgraçada com dificuldades acenava para aquele Senhor, como que quisesse lhe agradecer pelo jantar, e ele impassível a tudo assistia, compenetrado, como que remoesse imensas e intensas penas e tristezas por vê-la naquela situação, e ela foi se fazendo pequenina na distância, sempre acenando, agora na certa se despedindo dele e assim ela desapareceu na distância do olhar.

E eu ardia de curiosidades, queria porque queria perguntar àquele Senhor, se eles já eram conhecidos, e já houvera entre eles algum causo, se algum dia em suas juventudes foram amigos, namorados, quem sabe até amantes, mas aquele Senhor tinha um ar impenetrável, sério, um tanto sombrio, não vi chance alguma em lhe dirigir uma só palavra, quanto mais lhe fazer perguntas de cunho pessoal.

Logo ele se levantou e partiu em sua caminhonete, e eu fiquei a matutar, com certeza eles já se conheciam, na certa eles já se amaram, na certa já viveram tórridos momentos de amor, mas tudo isto são conjecturas minhas, são suposições, sãos divagações, pode ser que até se encontraram ali pela primeira vez em suas vidas, que eram completamente desconhecidos, que foi o acaso que proporcionou aquele encontro, mas prefiro continuar pensando firmemente que eles já se conheciam e que já se amaram, mas vá lá saber...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 16/03/2013
Reeditado em 17/03/2013
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