O CORONEL CAIPIRA AO TELEFONE NO PALÁCIO REAL

No passado tempo do Brasil colônia de Portugal o sertão foi dominado pelo coronelismo. Para receber uma patente de coronel bastava ser um latifundiário rico. Elementos grosseiros analfabetos sem um mínimo de educação mandavam e desmandavam nos sertões, acobertados por políticos que lhes concediam suas patentes, em trocas dos votos de cabrestos, dos coronéis, os chamados manda chuva. Sertanejos chucro e desumanos sem um mínimo de sentimento, capaz de espancar seus subordinados principalmente as pobres mulheres que eram tomadas como simples parideiras sem nenhum direito. Elas não tinham o direito votar, seu direito de cidadania era inexistente si quer poderiam aprender a ler e escrever.

Uma situação que se arrastou ao longo dos anos no tempo do Brasil colonial. Um verdadeiro cenário de jecas submissos ao coronelismo, onde a lei do cão ditava as ordens. Dá ou desce, obedecer ou morrer, essa era a lei que fazia os fracos tremerem diante imposição dos carrascos.

Certo coronel compadre do imperador sempre o recebia em sua fazenda por ocasião de suas caçadas. Uma prática muito comum dos nobres no tempo da monarquia. O Imperador por varias vezes o convidou a visitá-lo em seu palácio, uma forma de retribuí-lo pela acolhida em seu latifúndio onde a caça era abundante e o sucesso estava sempre garantido. O coronel meio temeroso para evitar gafes recusava, até que um belo dia decidiu encorajado por seu capataz que o aconselhou: - uai coroné, Voismecê se num incará a fera nunca vai deitá no coro do bicho não home. Anssim cê vai morrê sem sabê cumè a tar da corte! -- Sabe duma coisa, voismecê qui ta carrazaão, ieu vô memo na tar corte!

Após vários dias de viagem a comitiva do coronel foi recebida com muita pompa e luxo pela criadagem palaciana. Acomodado em seus aposentos o coronel manifestou o desejo de comprar um par de botas. O imperador ouvindo a conversa entre ele e o criado a respeito, ponderou -- Olha compadre para comprar qualquer objeto é só você telefonar será atendido de imediato, qual é seu desejo? –Um par de botas uai! – ai está o telefone é só pedir! Tirando o fone o entregou ao coronel que o colou no ouvido. – A telefonista: --, numero, por favor?—44 do bico chato! Êita cumpade esse seu reino é bão dimais nem gastô ieu conta o qui quiria já divinharo que tô percisano sô!

Resolvido a pendência das botas o coronel se aprontou, vestiu pela primeira vez sua túnica de coronel, desceu as escadarias e saiu a um passeio pelas ruas e praças do reino. A poucos metros do palácio encontrou uma guarnição militar que fazia exercícios marchando pela rua. Ao vê-lo o comandante silvou seu apito de alerta. Eles baixaram as armas batendo-as no chão em posição de sentido e fizeram continência! Assustado ele voltou correndo e gritando por socorro.

Mobilizando todo o contingente da guarda palaciana. Seu compadre o imperador veio ao seu encontro, -- o que aconteceu compadre? –Um bando de sordado tudo de arma fincada no chão mode mim atacá! –Não compadre acalme-se eles estão reverenciando são seus subalternos tem que ti prestar continência! --Oia cumpade acho mais mió ieu vortá pu meu sertão aqui num é lugá deu ficá não, pra cumêço de prosa ieu num intendo a prosa cocê usa pras bandicá anssim aminhã memo ieu tô vortano meu lugá é nos mato e capuera, brigado pu qui cê fêis pramim, quereno caçá na minha fazenda to ti isperano cus braço aberto mais vortá aqui! Nunca mais!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 11/03/2013
Reeditado em 11/03/2013
Código do texto: T4182556
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