UM CAIPIRA CARA DE PAU NO CARNAVAL

Já ficou provado que nosso conterrâneo Tetéu é de fato um tremendo cara de pau. Capaz de dar nó em goteira.
Trabalhando no corte da cana na indústria açucareira de Lagoa da Prata, certo carnaval, ele, um caipira apurado como sempre foi, com sotaque e tudo mais que acerca seu jeitão de matuto safado, cismou em passar mingau nos beiços da mulata sua mulher e pular carnaval sem que ela soubesse. Enquanto ela babando de vontade de dar uma reboladinha no antigo bloco do qual já foi rainha, ficou a ver navios cuidando do filho do casal. Ele como sempre escorregando mais que sabão em batedor de pedra em fonte de lavar roupa; anunciou que aproveitaria o feriadão para visitar sua terra natal. A mulher deu chilique sapateou, a sogra interferiu e propôs cuidar da criança só para ver a filha feliz, mas não adiantou ele argumentou trabalhar duro o ano inteiro e que merecia pelo menos rever seus amigos e familiares que há anos não os visitava. A mulher acabou acatando sua decisão. --- Eu sonhei o ano inteiro com essa oportunidade agora ocê faz isso comigo Tetéu. -- Nunca deixei fartá nada procê, muié intão ocê tem de obedecê. Eu vorto só dispois da quarta fera de cinza, ai socê quizè nois pode passiá junto num lugá quarqué pode iscoiê um lugá bem bunito mode a gente í!
Por ela Tetéu teria viajado a mãe bem que tentou abrir seus olhos dizendo não confiar muito no genro, que vez por outra aprontava uma. Tetéu foi direto para o salão onde um grupo de colegas de trabalho havia combinado enganar as esposas e organizar um baile de mascara. Onde um grupo de garotas descompromissadas também suas colegas de trabalho estariam no evento de orgia. Bem caracterizados após uniformizar com suas fantasias ninguém poderia reconhecer que era quem.
Como mentor do evento Tetéu esbaldando sua condição de líder escolheu logo sua companheira uma retardatária que chegou fantasiada de ovelha, mulata coxuda anca larga do jeito que ele se dizia preferir. Fantasiado de lobo, e ela de ovelha caiu perfeitamente no seu agrado. Ele se julgando o dom Juan da festa.
Dentre os critérios adotados pelos participantes, o combinado era que poderia rolar de tudo, mas ninguém poderia invadir a privacidade secreta do outro. Somente no final da festa seriam identificados como aconteceu na chegada. Sairiam dos vestiários todos descaracterizados. De modo que durante a orgia todos mantivessem sua identidade escondida.
Tetéu deitou e rolou com sua mulata, bebendo e fazendo de tudo nas dependências e nos derredores do edifício alugado pelo grupo. La pela meia noite da terça feira gorda ele facilitou um pouco. Nos seus movimentos com sua parceira rolando na grama debaixo de um arbusto no escurinho do jardim sua mascara passou na ponta de um gancho de uma grade de proteção o deixando de cara limpa. A mulata o reconheceu e disse apenas uma pequena frase:- - então é ocê seu safado bem que sua voz não me enganou! E desapareceu.
Na manhã de quarta feira ao chegar a sua casa deparou com sua mulher e sogra cada uma com porrete na mão, e sua mala e uma sacola com seus pertences. —Aqui ocê num entra safado volta La pros braços da sua mulata ocê num falô que ela é mais gostosa de que ieu? – onde cocê arranjô isso muié-, ocê ta doida? –Tô doida mode te isganá safado a mulata gostava cocê divertiu cuela, ilugiano todo o tempo esses dias tudo era ieu vagabundo!
--Tetéu nunca mais botou seus pés naquela bela cidade, vive afirmando que o motivo é a pensão devida a uma penca de filhos que tem com várias mulheres. Mas a historia do carnaval é segredo de profissão isto ele não revela de maneira nenhuma.




 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 08/02/2013
Reeditado em 04/03/2020
Código do texto: T4129582
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