O GÊNIO DO ABORTO E SUA OBRA DE ARTE(9º CAPITULO)

Um misto de espanto alegria e saudades tomaram o coração de Manoela. Saudade da mãe cuja convivência era apenas um sonho. Órfã materna aos cinco anos de idade foi atirada num colégio interno pelo pai. Meire bem mais velha, havia se casado tinha uma filha. Com apenas quinze anos se mudou para o exterior, acompanhou o marido que era marinheiro e foram morar na França. -- Espanto porque a imagem que tinha da irmã era também como um sonho. Criada longe do pai, saiu do internato para se casar com um matuto, que a fez consumir sua juventude metida naquele sertão sem eira nem beira. Um casamento que a exemplo de Meire, foi arranjado pelo pai, o grande mercador de manufaturados importados. De cuja profissão surgiu o contato com o marinheiro inglês radicado na França, com quem Meire contraiu núpcias.-- Em fim uma grande alegria a tomou pelo surpreendente fato de encontrar Sua irmã, que embora soubesse de sua existência, a imaginava já falecida.

-- Certoro entrou pelo saguão que dava acesso a sala de espera, acompanhado por um cocheiro, contratado para os conduzirem ao hotel situado na praça da estação ferroviária. Manoela apresentou-lhe a irmã e a sobrinha. Que logo tomaram a iniciativa em dispensar a carruagem contratada. Certoro tentou fugir ao convite da cunhada, justificando o longo período ausente da fazenda como pretexto em sua negativa, mas acabou sendo convencido Por ela a pernoitar em sua mansão.

Hospedados na mansão da irmã, Manoela ficou encantada com o luxo. Sua irmã já viúva, cujo marido um marujo bem sucedido lhe deixou uma grande fortuna investida em uma frota de navios mercantes administrada pelo genro, um milionário francês também de origem inglesa, e que vivia mais na França que no Brasil. Na sala de visitas as paredes cobertas de obras de arte, quadros dos mais famosos pintores do mundo, dentre elas uma bela obra chamou atenção do casal. Certoro logo se empolgou com o quadro:- - Veja este quadro Manoela que perfeição, idêntico a sede de Barro Branco, que coisa mais incrível, será que este artista passou por lá?—Se passou eu não sei, mas que esta é a sede da fazenda onde Luizinho nasceu não tenho a menor duvida, veja os detalhes à paisagem e todas as dependências, a estrada de acesso a estação o horizonte com os entalhes nas encostas... Olhe a assinatura L. Gonçalves. É muita consciência não? -- Meire quem é o autor deste quadro? –Ah este é o presente de um pintor para meu genro fás tempos que ele o descobriu por acaso me parece ter sido La para as tuas bandas, sei apenas que o menino lhe despertou um grande interesse pelo fato de ser um talento, e como o Richard meu genro, é apaixonado por obras de arte, trouxe o menino com avó e patrocinou seus estudos, ele se formou em jornalismo viajou pelo mudo fazendo cursos de pintura se tornou um grande pintor, já vendeu suas obras nas grandes capitais do mundo, participou de muitas exposições. Sua avó foi governanta aqui nesta residência por longos anos, na época eu e meu marido morávamos na frança, mas após seu falecimento nós trocamos com o Richard viemos residir aqui ele foi cuidar dos negócios por Lá, somos sócios. –E o pintor e sua avó? –Sei que moram por perto só não sei onde? – Sei também que logo que melhorou sua condição financeira trouxe os pais para morar com ele e avó. Não cheguei a conviver com eles, os vi poucas vezes, mas o Richard os adora tem verdadeira admiração por eles, talvez a Neide possa ter mais informações a respeito, ela sim conviveu com eles no tempo de criança!

--Neide minha filha lembras, o nome daquela governanta que trabalhou aqui quando você nasceu minha querida? --Lembro sim vó, ah como poderia eu esquecer é minha adorável vó Laura, nasci em suas mãos! --E o menino se lembra dele também? –O Luizinho lembro-me também, mas por que tantas perguntas? -- É dele este quadro não é?—Sim deu presente ao meu pai!---Acontece Neide que esta pintura é da nossa fazenda em Cruzilhas, é o retrato mais perfeito que já vimos. É o local onde ele nasceu Certoro tem verdadeira adoração por este menino ele o chamava de avô, e desde que se mudaram nunca mais tivemos noticias suas, agora por ironia do destino pareço-me que vamos encontrá-lo. –Se ele não estiver viajando, podemos visitá-los, daqui a sua residência são menos que duas horas de viagem, meu pai e eu sempre que podemos passeamos por La, vó Laura faz o chá mais gostoso que já tomei em toda a minha vida!

Certoro que no momento demonstrava grande insatisfação, e mau humor por retardar seu retorno, mudou completamente de idéia, e logo solicitou a ajuda de Neide na tentativa de reencontrar o neto. —Tudo bem tio, eu não posso acompanhá-lo, o médico recomendou-me repouso, mas nosso cocheiro sabe do caminho amanhã vocês poderão ir até La, acredito-me que vó Meire irá acompanhá-los, ela adora as fortes emoções nos reencontros desta natureza.

No dia seguinte, Certoro tratou logo de planejar a viajem a fazenda do neto enquanto ele providenciava a partida ajudando ao cocheiro nos preparativos da carruagem, Laura em um particular com a irmã a colocou a par de toda a história envolvendo Luizinho. – Você afirma que ele nunca soube que o menino é seu neto, mas ele se refere a ele como se fosse, não entendo que história absurda. -- Essa à forma que Laura conduziu a história para se vingar dele! – E você ajudou mana, não teve pena do pobre homem?—Eu também fui vitima perdi meu querido filho por causa deste preconceito maldito que habita o coração deste homem! Em verdade eu tentei convencer Laura a mudar de idéia e não deixar se levar pela magoa, ela não concordou. Mas analisando bem a situação cheguei à conclusão que ela tinha razão. Imagine perder a filha e o marido da forma como perdeu.

A conversa entre as duas irmãs foi interrompida pelo cocheiro avisado que a carruagem estava pronta e o coronel as aguardava para a partida. As damas tomaram seus lugares na poltrona de trás, o coronel ao lado do cocheiro que deu ordem de partida aos animais. A paisagem com sua exuberante beleza eram devoradas pelo olhar do coronel, que se tornou andarilho vislumbrando a majestosa obra prima criada pela natureza. Alheio a conversa das duas irmãs que aproveitaram o percurso para colocar na pauta suas histórias de vida. O coronel divagou voltando retroativamente no tempo fazendo uma memorável viagem ao seu passado, imaginava como seria seu reencontro com Luizinho cuja imagem permaneceu viva em sua memória ao longo daqueles vinte anos que se passaram mantendo-o o mesmo garoto de sempre!

Após galgarem várias encostas numa estrada sombreada por arvoredos seculares cujas flores exalavam seu delicioso perfume silvestre, donde milhares de pássaros ritmavam seus acordes diversificados orquestrando seus gorjeios encantadores, a carruagem adentrou uma alameda entre os mais belos coqueirais, cuja placa, uma obra entalhada numa tábua de lei, com uma seta indicando: (ESTANCIA NINHO DO COLIBRI)! Meire e Manoela silenciaram admiradas com tamanha beleza daquela paisagem. O cocheiro avisou: -- se preparem se estão achando isto maravilhoso à beleza maior está por vir aqui é só o começo!

Na medida em que aproximavam as palmeiras cediam lugar ao bosque, com sua decoração; cada árvore com seus desenhos, um mais belo que outro, em formatos de pássaros, animais, casas e seres humanos, uma obra de arte nunca vista. -- Tudo isso é obra deste gênio?—É sim dona Meire, mas o mais belo a senhoras irão ver na sua galeria de artes, La sim tem maravilhas!—Ta explicada à paixão que meu genro Richard tem por este jovem! – E aí coronel ficou mudo não disse uma palavra em toda viagem diz alguma coisa homem estamos chegando!—Digo, só acredito que tudo isso é obra daquele molequinho quando o encontrar, por enquanto fica minhas dúvidas, parece—me que estou sonhando, se realmente Laura e ele estiver ai dentro deste paraíso, ai sim eu acredito! – Naquele momento alguém abriu a potaria e a carruagem adentrou o pátio ajardinado da luxuosa residência.

(continua na próxima semana)

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 29/01/2013
Reeditado em 29/01/2013
Código do texto: T4111323
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