O ILUSTRE VISITANTE

Escrito para o concurso de causos do TRE-MG em outubro/2012

Há sete anos, outubro para mim era o mês das crianças. Mas desde que entrei para o TRE-MG, tudo isso mudou. Outubro virou sinônimo de Eleições. Desde a primeira eleição que participei como servidor me sinto um tanto quanto deslocado quando não participo diretamente do processo eleitoral. E foi numa dessas andanças pelo interior de Minas que presenciei uma história que ilustra muito bem o clima das disputas eleitorais. Para quem é da capital e não conhece os meandros da política do interior, sobretudo nas eleições municipais, aviso que numa típica cidade do interior pode haver vários partidos políticos, mas no frigir dos ovos, haverá apenas duas facções - é uma espécie de Atlético e Cruzeiro no Mineirão, em final de campeonato contando apenas com um árbitro, dois bandeirinhas e um pequeno destacamento de policiais para manter a ordem. Peço a paciência do leitor, pois preciso de mais um dedinho de prosa para entrar na história em si. O Atlético e Cruzeiro do causo na verdade travava-se entre duas facções: “Pé liso” e “Pé Rachado”. Advirto apenas que antes de praticarem qualquer injúria contra o árbitro da partida e seus auxiliares, fato que é comum no estádio de futebol, peço que considerem que na situação em questão cabia a mim e aos meus colegas de Cartório Eleitoral o árduo encargo de “arbitrar” esta disputa.

O causo aconteceu em um comício da facção dos “pés rachados”. Um político de projeção estadual era a atração de tal comício. Os oradores locais se revezavam no microfone, todos aguardando a chegada do ilustre representante regional na Assembléia Legislativa. Eis que chega a notícia de que o deputado sofrera um acidente a caminho da cidade, que estava bem, iria se atrasar mais um pouco, mas fazia questão de honrar seu compromisso de palanque. Todos na praça da cidade aguardavam ansiosos a chegada do figurão. Acontecimento que deu-se cerca de uma hora após a notícia do acidente. Ele chegou e, amparado por seus partidários, subiu ao palanque. Aparentemente estava bem. Pegou o microfone e começou a narrar os fatos que antecederam o acidente:

- Povo da nossa amada cidade, estava eu vindo pela rodovia recentemente pavimentada pelo nosso estimado governador, quando um animal invadiu a pista e perdi o controle do carro que saiu da pista e chocou-se contra um cupinzeiro. Desci do carro, passei a mão pelo meu corpo verificando se estava faltando algo. Agradeci ao Senhor e Nossa Senhora, pois tudo parecia bem – pausa dramática - foi quando resolvi tirar um dos meus sapatos e meu pé estava rachado!

E ouve grande júbilo entre os partidários “pés rachados” presentes.