GÉNIO DO ABORTO E A DISCRIMINÇÃO CONTRA A MULHER (7º CAPITULO)

No dia seguinte Certoro retornou de viagem. Satisfeito com o que viu, mas inseguro e preocupado, se realmente o deputado colocasse a chefia da estação a cargo de Laura. Sua produção e dos demais colegas sendo despachadas para os centros de consumo numa estação ferroviária dirigida por uma mulher, seria um afronto. A mulher não tinha se quer o direito de votar, como poderia ela ter capacidade de decisão ocupando um cargo tão importante? Gerir uma estação ferroviária?

Manoela logo notou que algo de errado estava acontecendo, talvez a viagem não o agradasse, a insatisfação do marido era aparente. –O que aconteceu Certoro que bicho te mordeu nesta viagem, que mau humor é este homem? – Veja você, o Deputado Saulo insiste em colocar uma mulher como chefe da estação-, estaremos com a nossa produção estagnada da mesma forma!—Deixe de ser turrão e preconceituoso homem, não lhe basta o que já passou com seu preconceito. Perdemos nosso único filho, simplesmente por ser preconceituoso e machista e você continua o mesmo, assim você jamais terá paz de espírito. –Os dois ainda discutiam quando a carruagem do deputado adentrou o curral.

---Uma mulher como vai confiar a ela nossa produção? Lugar de mulher é na cozinha-, de nada adiantou construir esta ferrovia! —Veja se pelo menos seja cordial, não é este o deputado que acaba de chegar? – Bom dia coronel! Bom dia minha senhora! Dona Laura se encontra?- Sim senhor esta cuidando da horta, entre esteja à vontade vou avisá-la! – Não será necessário indique-me o caminho vou até ela, gosto muito de ver uma plantação, ainda mais cuidada por uma pessoa tão eficiente como dona Laura! –Certoro engoliu em seco, mas se conteve sem dizer nada.

Passando pelo interior da casa Manoela indicou o caminho ao deputado ele desceu até a horta, Laura acabava de preparar a cesta de verduras e legumes, lavados na correnteza da bica. -- Bom dia dona Laura!-- Bom dia doutor! –Bela colheita dona Laura, parabéns por esta horta maravilhosa! Obrigado doutor--, que bons ventos o traz por aqui? – Dona Laura é minha, a missão de indicar um chefe para a estação de cruzilhas e gostaria muito que aceitasse este cargo!—Eu uma mulher... Está querendo encerrar vossa careira política doutor? --Absolutamente dona Laura, está mais do que na hora das mulheres mostrarem seu valor, e nada melhor que começarmos por aqui! – Obrigado doutor, mas não posso aceitar, conheço minhas limitações, e o preconceito machista que ronda este sertão, e não assumo um cargo alem do meu potencial, fico lisonjeada com sua gentileza, mas minha prioridade é meu neto emprego nenhum por mais nobre que seja me afastará desse objetivo!

Por mais que o deputado insistiu Laura não aceitou de forma nenhuma. Voltaram a casa. O político se despediu voltando a sua fazenda. A negativa de Laura deixou Certoro satisfeito, mudando completamente seu humor. Laura queria tempo integral para cuidar do neto.

Numa ultima tentativa Certoro tentou convencer Rosa e Pedro, que se passavam pelo papel dos pais de Luizinho, a lhe conceder a adoção do garoto. Mas eles reafirmavam que o filho não estava à venda, e que por dinheiro nenhum do mundo abandonariam dona Laura. Manoela interferiu no assunto levou Laura para uma conversa particular. Tentou convencer sua comadre para ela e o garoto passarem com eles uma temporada em Rancharia. – Comadre já lhe disse e reafirmo não coloco meus pés mais em Rancharia para evitar recordações de quem eu mais amei na vida. Prefiro guardar na lembrança os bons momentos que lá eu passei. – Quando Luizinho crescer ele saberá toda a sua história. Em suas decisões eu não vou interferir, caso ele queira poderá ir conhecer a terra natal de seus pais, e às vezes, revelar ao avô sua verdadeira identidade. Mas isto caberá a ele decidir é uma decisão dele. Somos amigas não quero que minha decisão interfira em nossa amizade, vou cuidar de nosso neto, poderá visitá-lo aqui quanta vez desejar. Com a condição que nunca diga ao vosso marido que ele é seu verdadeiro neto.

O casal partiu na manhã seguinte, e Laura continuou na sua rotina de trabalho, apoiada pelo casal Rosa e Pedro, o tempo passou e sua convivência com o coronel transcorreu de forma amistosa e civilizada, embora de maneira restrita com os dois se respeitando com muita cautela. O coronel construiu um grande seleiro para armazenar a produção oriunda de Rancharia. Sua amizade com Luizinho a cada ano se solidificava mais e mais. Ele via nele o neto que sempre desejou ter. Passaram-se cinco anos, as visitas de sua avó Manoela eram constantes. O coronel nunca soube que realmente ele era filho de Ricardo. Vivia se martirizando com aparência física entre ambos, o garoto era uma copia perfeita do seu filho.

A ferrovia levou Cruzilhas ao progresso, e desenvolvimento formando um núcleo comercial atendendo aquela vasta região sertaneja. Aos oito anos de idade Luizinho se tornou o mais sábio e letrado de todos os matutos do vilarejo. Revelou-se um excelente desenhista, o garoto nasceu com o dom da pintura dominava a arte de uma maneira admirável fazia um retrato falado de uma forma jamais vista. Embora em tenra idade à guarda do seleiro, lhe foi confiada pelo avô, uma responsabilidade que não confiaria a nenhum adulto. Laura vangloriava quando o coronel falava das qualidades do menino desejando ser realmente seu avô. Era o premio pago a ela por todo o mal causado à sua família.

Um dia a vila ficou pequena para o pequeno gênio, que a desenhou nas paredes da estação nos mínimos detalhes, causando admiração aos turistas estrangeiros que por La passavam vindos do exterior pela via férrea com destino a capital da província. “–” Vó por que a senhora se benze quando ouve o nome do coronel? “--Essa pergunta não havia sido completamente esclarecida, e o desejo de Luizinho ainda não satisfeito, a verdade mudaria sua vida. -- Decidida Laura tomou a atitude correta.

--Luizinho chegou à hora de vó te dizer toda a verdade sobre seus verdadeiros pais, mas isto vai depender de duas coisas. A primeira; temos que nos mudar para a capital, lá você poderá estudar e realizar seu grande desejo profissional, ser um doutor seja em que área for; e a segunda me prometer que só voltará aqui, quando se realizar na vida, até então seus avós paternos não terão mais nenhuma noticias sua. Tenho pena de sua avó Manoela, ela não merece, mas sofre os inocentes pelos pecadores, casou com o peste do coronel agora também vai pagar pelo pecado que não cometeu.

A decisão de Laura em aceitar a oferta de emprego do deputado Saulo e partir para a capital da província pegou de surpresa seu casal de amigos. Mas eles teriam noticias sua através do deputado, e talvez pudessem até visitá-los. Luizinho passou ao Pedro a chave do celeiro e todas as anotações, a serem repassadas ao coronel. Pedro e Rosa estavam bem situados financeiramente, acaso o coronel exigisse sua saída de Barro Branco o casal ficaria amparado. Além do mais, o deputado cogitava contratá-lo para gerenciar sua fazenda. Uma preocupação a menos para Laura, que partiu inesperadamente de coração partido, pelos dois amigos que ficaram. Só que ao invés do deputado, outra oportunidade surgiu , parece ter caído do céu, e eles a abraçaram de corpo e alma partindo imediatamente.

(Continua na próxima semana)

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 16/01/2013
Reeditado em 29/01/2013
Código do texto: T4087424
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