UM SUJEITO MATUTO

Maria das Graças, mais conhecida por Gracinha, que de bonita não tinha nada, pelo contrario era uma moça feia, filha única, morava com os pais numa casa de tabuas escurecidas pelos anos, embora grande e espaçosa, tendo até uma varanda na porta da sala, era uma casa humilde, em seu quarto tinha como mobília uma cama simples com colchão de palha e o guarda roupa era um varal sobre acama e um caixote nos pés da cama onde ela guardava seus poucos pertences, incluído as roupas do dia a dia e as de festas. Na sala uma mesa de madeira, quatro cadeiras, um bufê, numa das paredes sobre um suporte de madeira, o radio de pilha e em outra três quadros ovais, um com a fotografia dos pais recém casados, outro trazia a fotografia daquele que ela dizia ser seus avos e num outro, orgulho da família, a sua foto que ali ostentava rindo, na cozinha o tradicional fogão de lenha cuja chaminé vivia constantemente soltando fumaça, pois no campo o fogão praticamente permanecia aceso o tempo todo, isso mantinha o café no bule sempre quentinho e as panelas permaneciam aquecidas.

O terreiro da casa era uma belezura, flores cultivadas por Gracinha ornamentavam a porta de entrada da sala, o quintal sempre varrido com vassouras de alecrim do campo ou guanxuma, Gracinha cuidava de tudo com esmero e apesar de comunicativa era uma moça solitária, nada de algum rapaz das redondezas jogar olhos por cima dela, pois embora bonita por dentro, moça prendada e trabalhadeira,o seu rosto não ajudava em nada, era terrivelmente feia.

Mas como diz o ditado, não existe caldeirão sem tampa, eis que veio de longe uma família para formar café em uma propriedade vizinha e não é que um dos caboclinhos da família acabou se enamorando de Gracinha. Era um rapaz rústico, legitimo caboclo, de boa índole, um rapaz trabalhador, pouco mais velho que a moça, não tinha vicio nenhum, embora acanhado, um verdadeiro bicho do mato, autentico Matuto.

Mas a natureza sempre se encarrega dos serviço e onde há reciprocidade, o amor age, tanto é que o namoro fluiu e algum tempo depois Gracinha, com consentimento dos pais, acabou combinando uma visita do rapaz em sua casa para oficializar o dito cujo namoro.

Foi um domingo muito especial para a moça, tanto é que no dia anterior deu uma caprichada na casa, lavou a casa, forrou as mesas com toalhas, varreu o terreiro e, como o tempo estava chuvoso e a vermelha terra massapé da região sempre enchia os pés de barro, levantou de manhã e esparramou a entrada da porta da sala, uma boa camada de pó de serra, costume dos moradores da região para que a visitas, chegando com os pés cheio de barro, após limpar os pés no rapador de pé, pisassem na serragem para não sujar muito a sala com barro, o que dificultaria a limpeza posterior.

Gracinha estava ansiosa, colocou o seu vestido de chita, vale lembrar que embora o rosto não ajudasse, ela tinha um belo corpo de mulher, e ficou a espera do bem amado que no horário combinado, apareceu na curva do estrada que dava aceso ao sitio do pai da moça e ela mais do que nunca, correu até a porta da sala para recepcionar o seu bem amado.

O rapaz chegou, viera a pé, pois sua casa não ficava longe e como havia chovido a noite anterior, a botina estava que é puro barro, ele aparentando certo nervosismo não se ateve ao raspador de pés colocado na porta de entrada. Cumprimentou Gracinha com um aceno, ela o convidou para entrar, ele deu um passo pra traz, mirou bem a porta tomou impulso e deu um pulo indo parar dentro da varada que dava entrada para a sala, se virando para Gracinha apenas comentou:

__ Ufa! Puis num é qui quase pisei no pó de serra que sua mãe colocô na puorta, siô.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 11/01/2013
Reeditado em 12/01/2013
Código do texto: T4080010
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