O GÊNIO DO ABORTO E O POSSÍVEL SEQUESTRO(6º CAPITULO)
Pedro montou seu cavalo, saindo para o campeio as mulheres entretidas com os afazeres da casa, nem perceberam a ausência do coronel. Manoela saiu do quarto com um terninho de roupas nas mãos. --Que tal comadre será que vai cair para o Luizinho?—Com certeza esta linda a roupinha! –Mas talvez seja necessário algum ajuste eu costurei sem tirar prova vamos provar nele, se necessário faço os ajustes, ainda há tempo esta inauguração acaba atrasando, nunca sai no horário marcado. Saíram às duas juntas foram ao curral não encontraram nem ele nem Pedro e nem coronel. Meu Deus onde se meteu este menino?- Deve estar com a mãe. Apavoradas foram à cozinha, --Rosa onde está o Luizinho?—Com o coronel não se lembra que Saiu o puxando Pela mão dizendo que era pra ver o filhotinho da vaca!—Ah sim, mas o coronel também não está em lugar algum. Vamos correr ao rego d’água-, virgem santíssima nem quero lembrar a gente vigia tanto este menino, vinte quatro horas por dia, um instante que a se descuida acontece isto; vamos à bica quem sabe eles estão por La! --Eu só espero que ele esteja com o coronel! Vasculharam os derredores da casa e nada. Laura pediu calma para as duas que estavam apavoradas, pensaram em todas as hipóteses até mesmo em seqüestro. -seqüestro comadre aqui neste fim de mundo? – Esqueceu quanta gente estranha trabalhando na construção desta ferrovia, eles adoram este menino, vivem puxando conversa com ele só pra o ver perguntar por tudo há naquela estação? – Como que o Certoro me apronta uma destas, se queria sair para passear com o menino tudo bem, bastasse avisar a gente. --Calma comadre Manoela daqui a pouco eles estarão de volta!—O problema é que não sabemos se o menino está realmente com ele! Rosa havia saído para o lado de cruzilhas voltou toda sorridente, podem se acalmarem Chico está pouco ali depois daquela curva da estrada limpando a cerca, disse que passou um senhor com o Luizinho, recomendou se alguém perguntasse por eles avisasse que o garotinho estava o levando para ver um lugar onde ia chegar um carro que anda sem boi, e ainda puxa um monte de carros atrás dele. --Aquele garoto é mesmo esperto. Como pode com apenas três anos com a mentalidade de um adulto! – Ainda vai nos dar muito alegria este menino!—E trabalho também pode ter certeza!
Pouco tempo depois chegaram os dois fujões, o coronel estava que não cabia mais contentamento. O passeio o deixou irradiando alegria coisa que há tempos Manoela não via nele, desde a trágica morte do filho. – E aí coronel que filhotinho de vaca difícil não? –Ah este garotinho é um gênio me enrolou de conversa e não me mostrou filhote de vaca nenhum, teve de acompanhá-lo até as obras da estação me mostrando tudo, tintim por tintim. Parece-me até que é ele o engenheiro da obra! Contou que o carro anda sem boi e sem cavalo, puxando um monte de outros carros! Perguntei como, disse que tem uma bocarra engolindo lenha e cuspindo fogo é assim que anda!Este garoto é de um talento pouco comum! E tem mais ele disse que o carro vai até num rio grandão levando as coisas pra ser colocado numa canoa grande que vai até no mar. Eu gostaria de saber quem o ensinou tanta coisa assim! – Os trabalhadores da ferrovia coronel, vivem dando trela para ele, além do mais, quando os adultos conversam, ele está sempre de ouvido aberto captando tudo. -- o vô num sabe de nada pergunta a gente o tempo inteiro! -- Seu vô vai levar você La pra Rancharia vai ser meu capataz! – Que Isso capataz? –capataz é o chefe que manda pros outros trabalhadores! Quer ir com o vô? – Não, é longe! – Luizinho agora chega de papo, vem com a vó, tomar seu banho colocar roupa nova que a vô Manoela trouxe pra você, agora é hora de almoçar e vamos para festa ver o trem comedor de lenha chegar. --Laura não gostou nem um pouco, e ficou um tanto preocupada com a conversa do coronel com o garoto, procurou o afastar dele no momento. Manoela percebeu sua inquietação e ajudou disfarçadamente, o chamando para provar sua roupinha nova, embora no fundo ela sonhasse também, com a possibilidade de levar o garotinho com eles.
Em fim chegou o tão sonhado momento que os matutos sertanejos daquela vasta região visualizariam pela primeira vez o tal trem de ferro. O sonho dos grandes latifundiários sertanejos donos de engenhos e produtores de café, as duas principais preciosidades exportadas pelo Brasil colonial. Um trampolim para ascensão dos políticos que lutaram por aquela importante realização.
Quando se ouviu ao longe o som da locomotiva ecoando no interior da densa e verdejante mata um grande alarido de primatas selvagens de todas as espécies roubou a sena, correndo na lateral da via férrea chegaram até as proximidades do povoado. Uma sena ecológica inédita, os guaribas selvagens bisbilhotando curiosamente um importante feito dos humanos. Mas o que se viu quando o maquinista puxou o cordão do apito foi só macaco fugindo apavorado para todo lado.
No azul do céu uma branca nuvem se formou pela fumaça de fogos espocados pelo organizador do evento, se misturando com a fumaça expelida pela caldeira do trem. Os vagões de passageiros conduziam um grande numero de pessoas que vieram participar do evento. Autoridades políticas e altos funcionários da ferrovia. Num discurso rápido o deputado Saulo descreveu a importância da ferrovia, para aquele imenso reduto sertanejo, e anunciou que pela primeira vez uma mulher iria ocupar a chefia de uma estação. Este fato causou uma grande polêmica. Todos diziam:- - donde já se viu tamanho abuso colocar uma mulher chefe de uma coisa tão importante, lugar de mulher é no fogão e na fonte Cozinhando lavando, e parindo filhos!
A comitiva de inauguração teria que seguir mata adentra, até o fim da linha atingindo o porto fluvial cuja estação, ligando a capital da província ao resto mundo, seria inaugurada, seguindo por via fluvial, a navegação atingiria um porto marítimo. Era este o objetivo da grande obra que estava sendo inaugurada naquele dia. Alguns coronéis mais influentes, a convite, acompanhariam a comitiva que só retomaria no dia seguinte, Certoro estava entre eles, Laura ao ser apresentada as principais autoridades, pelo deputado Saulo, foi incluída entre os que teriam o privilegio de viajarem participando da festividade, mas ela recusou. Surpreso com o convite, Certoro indagou do deputado, o motivo de tanto prestigio dispensado a uma matuta roceira, sendo ela uma simples mulher. —Esta mulher coronel é uma grande líder e graças a ela muitos sertanejos, estão sendo alfabetizados. Talvez você não saiba, Aqui tem uma escola que funciona muito bem a pedido dela. Nós a convidamos para integrar a nossa comitiva por seus próprios méritos, ela será nossa agente na estação de Cruzilhas. —Uma mulher doutor... E ainda analfabeta? –Vejo que o coronel está realmente desinformado, a respeito do que vem ocorrendo aqui neste pequeno povoado nos últimos tempos! Em apenas três anos quase todas as mulheres de cruzilhas sabem ler e escrever. Se prepare coronel porque o tempo de submissão da mulher vai acabar. Como disse Dona Laura à mulher também é um ser humano e deverá ter seus direitos reconhecidos e respeitados. –Mulher doutor é para criar filhos lavar e cozinhar e para isso não tem que saber ler nem escrever--, Temos que pensar duas vezes antes de confiar que uma mulher possa gerir bem o envio da nossa produção agrícola para a capital. –Laura que afastara um pouco não tomou conhecimento da conversa ao seu respeito entre Saulo e o coronel. Em seguida ela se despediu dele, o agradeceu pelo convite da viagem não aceito. --O trem partiu, e juntas, ela Manoela e Rosa, Pedro e Luizinho voltaram a casa na sede da fazenda.
(Continua na próxima semana)