Clube Atlético Froisense (em memória de Zezim do Ipe)
Seu Pio era o técnico do time da cidadezinha do interior de Minas Gerais. Era atleticano, fã de Guará e Zé do Monte. Não perdia uma partida do escrete alvinegro no radinho de pilha. Fazia questão do uniforme do time da cidade ser alvinegro e se chamava Clube Atlético Froisense. O craque do time era Zezim do Ipe, chegou a treinar, para desgosto de Seu Pio, no cruzeiro da capital, era um meia habilidosíssimo, e tinha chance de disputar posição com Dirceu, mas em sua primeira folga no período de testes foi para uma daquelas casas de mulheres de vida fácil da capital e acabou perdendo todos os documentos pessoais e só apareceu uma semana depois do dia da reapresentação. Voltou para o Fróis e se consagrou como o maior jogador da chapada do noroeste mineiro. Em um jogo contra o time da Barra-da-vaca, recebeu um cruzamento dominando a bola na cabeça na entrada da grande área e conduzindo a mesma de cabeça, em alta velocidade, até testá-la com força para dentro do gol, quase entrando com bola e tudo, fora gols antológicos de voleio, sua especialidade.
Mas, o lateral da forte equipe froisense, era Pio Junior, o junim de Seu Pio, e não era porque era filho do técnico não, ele era um lateral arrojado e em dez cruzamentos, seis eram na cabeça do centroavante do time.
Quando jogavam fora de casa, o meio de condução da equipe era a velha jardineira de seu Jair, que apesar de velha até no nome, nunca deixou o time na estrada, se é que aqueles trilhos de carro de boi podem ser chamados de estrada. Se vencessem, seu Jair não cobrava nada, mas se perdessem, tinham que pagar o óleo. Pois bem, o time do Fróis, era imbatível e sua fama corria longe, Zezim do Ipe era tão temido pelos beques advesários, que muitas vezes, se exigia que ele não jogasse, para que as coisas ficassem mais justas, depois os adversários mesmo pediam que ele entrasse em campo para apreciarem seu fino futebol. A fama do escrete froisense chegou a Unaí, cidade grande, nos parâmetros da região. Então, veio o convite para que a equipe do Seu Pio fosse se apresentar em Unaí, contra o time da cidade. Todos entraram na jardineira, seu Jair de quepe e tudo e Seu Pio, como sempre,de pé, ao lado da porta da frente e de seu Jair. Corre estrada, a rapaziada cantando baianas e marchinhas de carnaval até que se chega à BR, caminhões pra lá e pra cá, a moçada se cala e fica botando reparo no movimento, de repente, Seu Pio pede a seu Jair que encoste, pega a sacolinha de pano com suas roupas e desce da jardineira, caminha calmamente na lateral do veículo e dá com a sacola na cara do Junim, que estava distraído com a cabeça pra fora da janela, o molecão, leva um baita susto e grita choroso: __ È o sinhô, pai? Então o velho retruca de primeira, escovando o herdeiro: __ Ainda bem né Jùnio, já pensou se fosse um caminhão? Os passageiros respeitavam o Seu Pio, ninguém ousou dar um pio e naquele dia venceram o time de Unaí por dois a um. De virada. Dois gols de Zezim do Ipe, o segundo de voleio, dizem que pulou meio metro para acertar a bola cruzada por junim de seu Pio.