VAMOS POR AQUI
Eram tempos difíceis aquele, quando uma pessoa ficava doente as vezes precisava que alguém andasse quilômetros e quilômetros a cavalo em busca de medicamentos ou de algum benzimento e ali, naquele confins de mundo, sertão onde Judas perdeu as botas morava uma família onde, certa tardezinha um dos filhos caiu doente com uma forte febre. Era uma família de posse, mas por ser um local distante do povoado não tinham outro recurso senão recorrer ao velho e conhecido benzedor e curandeiro que morava de favor em uma choupana coberta de sapé nas proximidades da vendinha distante a alguns quilômetros da propriedade e esta tarefa coube ao irmão mais velho, já alcançando a casa dos vinte anos que, arreando o seu alazão for ter com o famoso homem.
A distância entre a moradia do doente e a choupana do velho passava dos quinze quilômetros, num estrada boiadeira que seguia e linha reta e a certa distancia uma curva seguida de outra reta até chegar a dita cuja Vendinha. O rapaz chegando a vendinha no cair da noite e foi direto ao velho benzedor contando o que estava acontecendo. O bondoso homem prontamente lhe atendeu, fez suas rezas, entregou ao mensageiro um litro com alguma raízes e orientou o rapaz como deveria proceder com a raizada e como de costume, nada cobrou, o rapaz lhes deu uma gorjeta e mais que depressa, montou no seu cavalo de volta.
A Noite estava muito escura e após cavalgar por algum tempo, ouviu na escuridão o tropear de alguns cavalos, aguçou os ouvido e podia ouvir o burburinho de conversas, animou-se, fez o seu cavalo andar mais ligeiro com a intenção de alcançar aqueles caminhantes, mas por mais que andasse, parece que o cavaleiros da frente também andavam mais rápidos, de tal forma que ele não conseguia alcançá-los.
Andou assim um bom trecho ate a entra dos Machados, este era o nome dado a um braço da estrada que saia do estradão e ia para um bairro populoso e que tinha o nome de Água do Machado. O cavaleiro pressentiu na noite escura que os cavaleiro tomaram a direção dos Machado, assim ficou mais aliviado, mas em contrapartida não podia mais contar com os companheiros anônimos, ate que ouviu uma voz chamando:
__ Vamos por aqui.
Como ele conhecia bem aquele trecho, pensou com seus botões, a viagem iria ficar mais longa, pois andaria alguns quilômetros a mais até chegar a uma variante que o levaria de volta ao estradão mais adiante aumentado a viagem nuns três ou quatro quilômetros, mas pelo menos teria a anônima companhia, estava ainda a meditar quando alguém insistiu:
__ Vamos por aqui.
Num gesto repentino, freou o cavalo, retornou o pouco que havia passado da entrada e seguiu acompanhando os cavaleiros que iam a frente, porem por mais que instigasse o cavalo a andar rápido, não conseguia alcança-los até que chegando a variante que o levaria de volta aos estradão passando pelo bairro dos machados, o cavaleiros tomaram rumo contrario e ele obrigatoriamente deveria seguir pela variante e foi o que fez, mas ouviu de novo o chamado.
__ Vamos por aqui.
Ele justificou que não poderia pois estava voltando para casa e seguiu em frente. Não se ouvia mais o trotar dos cavaleiros a sua frente pois haviam tomado outra direção mas, após cavalgar algum tempo na escuridão, inexplicavelmente, o seu chapéu voou da cabeça, ele tentou segurá-lo mas não conseguiu, apeou do cavalo e puxando o animal pelo cabresto voltou até onde estava o chapéu, apanhou-o e quando foi montar no cavalo, notou que este estava sem sela.
Foi só então que percebeu que algo estranho esta acontecendo, os cavaleiros que não conseguiu alcançar, o convite para cavalgar junto e o chapéu que voou de sua cabeça sendo que soprava apenas um leve brisa incapaz de sequer mover uma palha e agora, onde estaria sua sela? Obviamente que não poderia ter perdido longe, assim amarrou o cavalo num mourão da cerca a beira do caminho e saiu a procura da sela que realmente não estava distante, mas o que mais impressionou foi que a barrigueira estava atada perfeitamente como se estivesse no animal, isso muito o preocupou e, arrepiado de medo, voltou onde havia amarrado o cavalo mas lá estava somente o cabresto, o animal havia fugido porem não encontrou explicação para o cabresto ter permanecido no mourão da cerca.
Sem pestanejar, abandonou a sela no chão e saiu caminhando a pé com o objetivo de alcançar o estradão logo mais adiante e daí para casa onde o irmão com certeza aguardava o remédio.
Em casa aguardando a sua chegada, seus familiares ouviram um relinchar estranho, saíram correndo e viram o cavalo que vinha num corrida desembalada parando na porteira de entrada do sitio, estava sem as selas, sem o cabresto e muito nervosos e mais nervosos e preocupados ficou a família e alguns dos membros imediatamente rumaram para a venda para decifrar o que havia acontecido, porém desencontraram do irmão que havia tomado o atalho. Ao chegarem na venda foram informados que o irmão esteve lá, porem na boca da noite voltou para casa com o remédio que o benzedor havia lhes providenciado. Voltaram rapidamente pelo mesmo caminho e alcançaram o rapaz que a pé, já nas proximidades de casa mas só no dia seguinte que refazendo do susto, contou todo a sua aventura da noite.
Dias depois foram a venda e encontraram alguns jovens, moradores do Bairro do Machado, que garantiram que naquela noite ninguém foi a venda e nem saído do bairro conforme o rapaz afirmava. Mistérios de uma noite escura no sertão