O CAUSO DO MENINO JESUS
Num lugar distante da civilização, em alguma parte deste pais de dimensões continentais,um casal profundamente apaixonados casaram segundo as leis dos homens, eram tementes a Deus e fiéis aos seus mandamentos, portanto logo foram abençoados com um lindo menino, o primeiro entre todos os demais que o Senhor bondosamente lhes agraciaria como bênçãos do céu, por isso escolheram para o primogênito o nome mais santos que podiam imaginar na face da terra e com muito orgulho, assim que o menino nasceu e a jovem convalescera, o humilde pai, cheio de orgulho, procurou logo o cartório no povoado e registrou o menino com o nome de Jesus.
Os anos passaram, o menino cresceu forte e viçoso em meio aos demais irmão que a cada ano aparecia em casa. O Pai caboclinho forte e trabalhador de tudo fazia para não deixar faltar mantimentos na dispensa e concórdia no lar, era um chefe de família autentico, rústico e sistemático como era, todo serviço de maior responsabilidade ele mesmo procurava realizar e assim o tempo foi passando e como Jesus já estava rapazinho, chegou o dia de começar a colher os frutos de tantos anos de labuta para a criação da prole.
Era costume da região de fazer a troca de milho por fubá, assim o caboclo levava uma determinada quantidade de milho no moinho e lá trocava a matéria prima bruta, ou seja o milho, pelo fubá. O Moinho ficava no povoado a muitas léguas de distancia da casa do pai de Jesus e certo dia ao levar o milho para a costumeira troca, o moinho estava quebrado como o moleiro era um velho conhecido e de confiança, deixo o milho marcando um dia para buscar o fubá. O dia aprazado para a troca era um domingo e ele tinha outro serviço importante para executar, chamou então o menino e o orientou:
___ Amanhã ocê vai ate o povoado Jesuis, meu fio. O pai combinou como o seu Onófri do muinho, atroca de mio por fubá, pois o dia qui levei o mio, o muinho tava quebrado e o pai combinou de vorta busca o fubá nesti dumingo e como o pai num podi i purcauso do mutirão du cumpadri Tunico, intão ocê vai no meu luga.
O menino que nunca tinha sequer posto os pé no povoado, pois o lugar mais distante que ia era a venda do bairro, durante a semana para comprar o que o pai necessitava, e aos domingos com a desculpa da reza do terço na capela mas o que o cativava mesmo era a pelada no campinho de várzea da vendinha, agora, uma viagem neste moldes, sair cedo de casa no lombo de um animal, andar quase meio dia e só retornar no cair da noite, visto que eram léguas de distancia, ele nunca tinha feito portanto ao receber a ordem, um frio lhes subiu pela espinha e o menino retrucou:
___ Mais pai, eu num conheço ninguém por lá, o sinhô num mi levou nenhuma veis neste tar povoado, como vô sabê incontra esse lugar i esse tar de muinho do seu Onfri.
Energicamente o pai o sensurou, num misto de elogio e ralhamento:
___ Hara, oce num é nenhum muleque mais, já é homenzinho, é só pega u istradão e ia sempre adiante que ocê chega la, é um amontoado de casa, uma pertinho da outra, ocê logo vai sabe que ali é o povoado, então oce vai entrando, entrando, i quando chega numa casa que tive bastante gente, é ali o muinho.
Como o que não tem remédio, remediado esta elem do que o rapazinho tinha loucura por conhecer o tal povoado, pois os camponeses do lugar falavam que lá tinha muita gente e que o lugar era bonito, juntou o útil ao agradável: atender ao pai e no mesmo tempo matar a curiosidade de conhecer o tal povoado.
Aquela noite pareceu a mais longa de sua vida, um misto de ansiedade, angústia e medo fez com que perdesse o sono varias vezes, e ao despontar os primeiros raios solares, o rapazinho já havia pegado o estradão montado em sua bela mula tordilha rumo ao misterioso patrimônio.
Foi tudo conforme o pai havia ensinado, entrou naquele emaranhado de casas e estradinhas, e logo viu uma enorme casa abarrotada de gente, apeou de sua montaria, amarrou a mula num pé de arvore nas proximidades do casarão e adentrou no estabelecimento, ficou maravilhado com a quantidade de homens mulheres e crianças que estavam, todos sentados ouvindo atenciosamente um homem que, em pé num ponto mais alto do estabelecimento, com uma voz arrastada e de uma sotaque esquisito estava falando e que derrepente perguntou:
___ E o que Jesus veio fazer?
Na certeza de que a pergunta fora direcionada a ele, imediatamente levantou os braços e disse em alto e bom tom
___ Vim busca u fubá qui o sinhô trocô cum o pai ué!
Não sabia o caboclinho que aquele local era a igreja e que adentrara no momento exato em que o velho Padre Alemão fazia a homilia da missa daquele domingo.