SENTIMENTOS

Ele era ainda um menino,

Jamais imaginou por destino,

vir morar aqui na cidade.

E parece até um fiasco,

da janela de seu barraco,

Hoje vive remoendo a saudade

São recordações de um passado,

que ficou bem guardado,

nas memórias deste peão,

que se hoje mora na cidade,

mas traz em si a dignidade,

do rude homem do sertão.

Pode nem saber falar bonito,

e achar até meio esquisito,

o linguajar do povo civilizado.

Parece que o passado distante,

não foi suficiente o bastante,

pra lhe tirar este legado.

Pois são mais lindas as cenas,

que traz gravadas apenas,

neste seu jeito de pensar.

Quem não viveu lá na roça,

pode ate fazer troça,

porem jamais poderá decifrar.

Fechando os olhos, vê a boiada,

descendo em disparada,

para beber das águas do ribeirão.

Vão descendo em fileira,

no ar, levantando poeira,

dos cascos pisando no chão.

Vê a chuva esbranquiçada

caindo longe, na invernada

trazendo vida nova a natureza

O cheiro de terra seca molhada,

encharcando toda a terra arada,

donde alimenta a nossa mesa

Vê o sacrifício do roceiro

trabalhando o dia inteiro,

a cuidar da plantação.

Na camisa, manchas de sal,

do suor da labuta infernal

nas quentes tardes de verão.

Num relance, o cuitelo no ar

precioso néctar a sugar

batendo as asas bem rapidinho

Se da flor desfrute tal sabor

embora em constante labor

solitário, porem nunca sozinho.

Vê o tempo lindo que se foi

lembranças do carro de boi

que hoje não existe mais

Se vê na vida, passando adiante

Passos largos triste caminhante

Solitário a chorar seus ais.

Quem dera este velho sonhador

ser vencido ou ser vencedor,

são detalhes que pouco importa.

Viveu a vida como de direito

Fez tudo como deveria ser feito

não interessa se a Inês é morta!

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 17/09/2012
Reeditado em 17/09/2012
Código do texto: T3887065
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