SENTIMENTOS
Ele era ainda um menino,
Jamais imaginou por destino,
vir morar aqui na cidade.
E parece até um fiasco,
da janela de seu barraco,
Hoje vive remoendo a saudade
São recordações de um passado,
que ficou bem guardado,
nas memórias deste peão,
que se hoje mora na cidade,
mas traz em si a dignidade,
do rude homem do sertão.
Pode nem saber falar bonito,
e achar até meio esquisito,
o linguajar do povo civilizado.
Parece que o passado distante,
não foi suficiente o bastante,
pra lhe tirar este legado.
Pois são mais lindas as cenas,
que traz gravadas apenas,
neste seu jeito de pensar.
Quem não viveu lá na roça,
pode ate fazer troça,
porem jamais poderá decifrar.
Fechando os olhos, vê a boiada,
descendo em disparada,
para beber das águas do ribeirão.
Vão descendo em fileira,
no ar, levantando poeira,
dos cascos pisando no chão.
Vê a chuva esbranquiçada
caindo longe, na invernada
trazendo vida nova a natureza
O cheiro de terra seca molhada,
encharcando toda a terra arada,
donde alimenta a nossa mesa
Vê o sacrifício do roceiro
trabalhando o dia inteiro,
a cuidar da plantação.
Na camisa, manchas de sal,
do suor da labuta infernal
nas quentes tardes de verão.
Num relance, o cuitelo no ar
precioso néctar a sugar
batendo as asas bem rapidinho
Se da flor desfrute tal sabor
embora em constante labor
solitário, porem nunca sozinho.
Vê o tempo lindo que se foi
lembranças do carro de boi
que hoje não existe mais
Se vê na vida, passando adiante
Passos largos triste caminhante
Solitário a chorar seus ais.
Quem dera este velho sonhador
ser vencido ou ser vencedor,
são detalhes que pouco importa.
Viveu a vida como de direito
Fez tudo como deveria ser feito
não interessa se a Inês é morta!