SETE LÉGUAS

O Senhor Lindolfo era dono de uma pequena mas bem organizada propriedade rural e um homem de respeito e que gozava de boa reputação em toda a região de tal forma que mesmo morando a sete léguas do pequeno povoado, não tinha quem não o conhecesse seu Lindolfo, Dona Joana, os três moleques e a menina que formavam uma família bem conceituada.

Dona Joana já balzaquiana era muito bonita e fogosa porem mulher de respeito, não se ouvia falar nada que desabonasse a bela mulher. Viviam eles uma vida pacata na pequena propriedade alias, naquela época a região era muito povoada, não existiam os grandes fazendeiros que enxotaram os trabalhadores rurais do campo e as proprietários maiores sempre usavam o sistema de meeiros para tocarem suas terras e os colonos permaneciam na propriedade por longos tempos, muitas vezes até a morte.

Dona Joana sempre prestimosa a cuidar da casa, do marido e dos filhos, formava uma exemplar dona de casa, dado a união e o carinho com que tudo era feito naquele lar porem, nem tudo nesta vida é um mar de rosas, também existem os talos e os espinhos, o Seu Lindolfo que era na verdade bem mais velho do que a esposa, cai doente e apesar dos cuidados a ele dispensados pela bondosa mulher, o homem veio a falecer deixando Joana viúva e com a responsabilidade de cuidar dos quatro filhos ainda pequenos, o maior tinha apenas dez anos e a caçula, uma bela menina, com pouco mais de um ano de idade.

A mulher que parecia tão responsável, se vendo só e com a responsabilidade de cuidar dos negócios da pequena propriedade, acabou virando a cabeça, se iludiu com um vagabundo da cidade que prometera a ela, mundos e fundos, porem na realidade não queira nada com nada, senão usufruir do dinheiro da pobre mulher que por causa das promessas amorosas, abandonou os filhos, entregando aos seus respectivos padrinhos de batizado e até, diziam as más línguas, que a menina ela vendeu para uma família da capital, atitudes que levaram a mulher perder a compostura de vez.

Como o amante não queria nada com o trabalho, depois de endividado, abandonou a pobre mulher que desorientada talvez pelo remorso, todos os dias arriava um velho cavalo tordilho atrelava-o a velha carroça de roda de ferro e ia para a cidade na busca de seu bem amado, porem o homem sumiu no mundo e ela nunca mais o encontrou.

Era uma triste cena, todos os dias da semana, fizesse sol ou chuva, calor arrebentar mamona ou frio de doer os ossos, lá estava a mulher como uma demente a caminho do povoado em busca do amor perdido, inconformados todos aqueles que a viam dessa forma, já não a chamavam mais de Dona Joana e sim de “Sete Léguas” até que um certo dia correu a triste noticia, a mulher fora encontrada morta, já em elevado estado de putrefação, abandonada as margens de uma rodovia.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 08/08/2012
Reeditado em 08/08/2012
Código do texto: T3820707
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