O CONSELHO DA VOVÓ

Mas bons tempos aqueles!... Que bons tempos? Se a vida era tão difícil, sendo os homens da roça uns caipiras com poucas ou sem instrução alguma, como pode ensinar uma pessoa se não se sabe nada? Parece mesmo uma contradição, verdade era porem que, mesmo sem estudo algum, mesmo se calando diante de suas carências e aparentemente não indo a luta por uma vida melhor, este rude campones tinha uma sabedoria invejável, aprenderam com seus antepassados, conheciam os fenômenos da natureza e viviam em plena harmonia, a terra dava-lhe quase tudo e o que faltava, isto era desígnio do criador, não se preocupavam tanto com o ter, mas vivendo de forma simples e singela, o sertanejo não carecia se consumir no trabalho e não desperdiçavam de forma alguma a oportunidade de sentar com seus entes queridos, tanto é que naquele tempo toda tarde ou noitinha sempre tinha reunião de família, onde as crianças e os jovens sempre se calavam para ouvir os causos dos mais velhos, aqueles que embora caipiras, detinha poder do conhecimento, o que não vemos hoje nos grandes centros urbanos onde a televisão usurpou este direito.

Ah! Mas lá se vivia em completa harmonia? Tudo era perfeito? O respeito fazia realmente parte da índole do sertanejo? Não! Sabemos que para toda regra há uma exceção e o homem do campo não esta livre deste desatino. Também lá existiam as traições, as barganhas de mulheres e as lanbisgoias também se fazia presente entre as camponesas, alias parece que isso tudo esta enraizado no ser humano e alguns até chegam afirmar: é o pecado original! Será mesmo?!?!?!

Noite destas o neto de uma conhecida comadre de minha mãe e da qual também chamávamos de comadre, era uma figura no bairro, conhecida por toda a região, foi parteira muito competente e uma benzedeira de mão cheia embora dizem que foi espevitada na juventude, hoje era mulher de respeito, tinha uma prole grande, sete filhas, oito filhos e mais de uma dezenas de netos netas e com referência a eles sempre dizia que trazia uma única certeza em sua vida, e falavam na frente dos filhos das filhas, das noras e dos genros:

Filhos de minhas filhas,

meus netos são!

Filhos de meus filhos,

serão ou não!

Foi quando um de seus netos, ainda recém casado adentrou na casa da avó fazendo o maior pampeiro pois havia descoberto que a jovem esposa o traia com o patrão, a bondosa mulher o acalentou e calmamente aconselhou

__ Meu fio, chifre é infeite pra cabeça de homem, a vaca só usa di atrivida!

E complementou:

__ Liga não, isso dói nu começu mas logo passa! Ocê vai vê.

Talvez até mesmo a avó não estivesse de acordo com aquela atitude mas a separação seria a pior saída tanto é que o casamento permaneceu e foram felizes para sempre.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 01/08/2012
Reeditado em 01/08/2012
Código do texto: T3808919
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