Causo de Assombração...
Causo de Assombração...
Theo Padilha
“Há mais coisas entre o céu e a Terra do que sonha a nossa vã filosofia” (Shakespeare).
Muitas coisas aconteceram na minha vida no ano de 1988. Mudança de cidade, separação, formatura e a perda de minha querida mãe.
Eu li muitos gibis na minha vida. Vi muitos filmes. Ouvi muito rádio. Mas eu gostava muito de histórias de assombração. Chegava a acordar à meia-noite para escutar no rádio, histórias do sobrenatural. Jamais pensei que tudo isso fosse influenciar no meu futuro. Tornei-me um homem medroso. Tinha medo de escuro. Não ia pescar sozinho. Mesmo de dia aquele silêncio da beira do rio me assustava. Não tinha medo de cobras, não. Tinha medo de fantasmas e duendes mesmo.
Quando o depósito que eu trabalhava em Joaquim Távora-PR fechou tive que ir para Jacarezinho. Eu e mais dois amigos. José e João. João era o motorista e José vendedor e seu auxiliar nas viagens de entrega de bebidas. Eu fui trabalhar no escritório. Estava quase na hora de pegar o meu diploma de professor e estava feliz. Minha turma da faculdade era excelente.
O nosso patrão nos arrumou uma casa próximo ao nosso local de trabalho. Antes quando fomos de Joaquim Távora, ficamos num hotel, e estava ficando muito caro para a empresa. Essa velha casa parecia casa de terror. Uma tapera. Quase caindo. E os amigos do depósito me enchiam de medo. Diziam que um homem havia se enforcado naquela casa e que aparecia todas as noites. Durante a semana tudo bem os meus amigos posavam ali também e nunca vimos nada. Eles iam vender cerveja em Cambará, mas a noite estávamos todos reunidos.
Como eu estava separado, nos finais de semana eu posava sozinho naquela casa. Eles iam ver suas famílias em Joaquim Távora. Numa sexta-feira eles chegaram de Cambará e aprontaram comigo. Eu estava na faculdade e só aparecia às 23 horas. Os dois safados pegaram minha própria roupa. Calça, jaqueta, tênis, e fizeram um Judas. Pegaram uma corda e penduraram o Judas no meu quarto. Acenderam um montão de velas de baixo do Judas. Desligaram a luz. Fizeram um clima de terror naquela tapera que não tinha forro. E as frestas da casa davam para ver lá dentro. Quando abri a porta e entrei no quarto me deparei com aquela coisa. Eu havia tomado umas com os meus amigos de faculdade e já era meia-noite. Soltei um grito. Nem sei o que falei. O guarda noturno do depósito de bebidas veio correndo ver o que havia acontecido. Quase desmaiei de medo. Na mesma hora jurei vingança. Mas não posei na casa naquela noite. Passei o resto da noite lá fora conversando com o guarda.
Na semana seguinte todos do depósito me atazanaram a vida. Eu dizia: “Espere que vocês vão pagar!”.
Esperei até a quinta-feira, sabia que eles voltavam cansados de Cambará. Durante o dia comprei 10 bombas gigantes. E por volta da meia-noite cheguei da escola em silêncio. Olhei pelas frestas eles dormiam em silêncio. Acendi duas bombas de uma só vez e atirei para debaixo da casa. Eles pularam de susto. As tábuas do assoalho chegaram a se levantar. Depois fui acendendo e jogando. Fiz o maior tiroteio da minha vida. Quem ri por último ri melhor. Nunca mais aqueles dois safados me assustaram.
Joaquim Távora, 29 de julho de 2012. By Theo Padilha©.