O CRUZEIRO FURADO
O CRUZEIRO FURADO
Theo Padilha
Desenterremos mais uma história verdadeira do nosso cemitério de contos. Conforme relatos de nossos amigos, ex-companheiros de trabalho. Havia na minha cidade um senhor, muito inteligente, que tinha vindo de outro país e aqui se casou com uma ucraniana, de tradicional família. Não temos o seu nome. Vamos chamá-lo Miguel.
Como já dissemos Miguel, devia ter estudado muito no seu país. Pois tinha uma inteligência fora de série.
Este homem começou a frequentar a única gráfica de nossa cidade. E como seus maquinários eram abertos para o público que ali frequentavam, não foi difícil para Miguel fazer amizades com os rapazes da impressão. E dar mais uns passinhos para perto das máquinas. Ele observava horas e horas o desenrolar do trabalho das impressoras. Quase não falava com ninguém, pois era estrangeiro e pouco conhecia de nossa língua. Ele tinha consigo um caderno e a cada observação ele ia até o caderno que ficava no balcão e anotava uma coisa. Isso aconteceu por muitos dias. Ele sempre estava bem vestido. Certa vez, por distração ele encostou o seu terno branco nas negras tintas da impressora. Foi muito divertido para os rapazes da gráfica. Mas assim mesmo noutro dia ele estava lá, observando e copiando tudo.
Um dia Miguel parou de visitar a gráfica e nunca mais souberam daquele estrangeiro. Até que um dia Miguel apareceu num jornal policial. Como um dos maiores falsários do Brasil. Ele havia espalhado moedas falsas em todo o norte paranaense. Numa entrevista ele declarara que ele mesmo havia construído a impressora de moedas e que copiara peça por peça de uma máquina de impressão. Suas moedas eram de latão. Depois ele as pintava com uma tinta que as deixavam niqueladas. Estava preso. Já deve ter morrido. Alguns colecionadores ainda têm suas moedas, quase perfeitas. Bastava arranhá-las para retirar a tinta, que era provado a sua falsificação.
Joaquim Távora, 15 de julho de 2012. All the rights by Theo Padilha©.