O PADRE, O PECADOR E O SACRISTÃO
Era um pequeno patrimônio entalado nos confins do sertão, lugar sem Lei, mas lugar de um povo religioso tanto é que o senhor bispo elevou a capelinha a categoria de paróquia e designou um padre para administração, foi uma festa a chegada da então autoridade máxima do lugarejo, perdido em seus afazeres rotineiros de administrar um paróquia com parcos ou nenhum recurso financeiro, dar conselhos aos jovens e aos casais, apaziguar algumas contendas e ouvir as confissões dos féis, absolvendo após impor uma penitencia, mas por sorte contava com a ajuda de uma pessoa muito especial, a sua mãe que viera morar com ele tendo em vista que era uma senhora ainda jovem mas que desde a morte do marido, passou a acompanhar os passos deste filho, apoiando-o desde a decisão de se consagrar aos trabalhos do Senhor.
Aos poucos o jovem padre foi conhecendo os seus fiéis, tempos depois um em especial começou chamar atenção do sacerdote, homem já de meia idade, proprietário de muitos alqueires de terras na região, famosos pela fama de rico, apesar da má fama de biscateiro não era não era uma pessoa má, vez por outra comparecia as celebrações da eucaristia, confessava de vez em quando e não deixava de fazer seus donativos nas festas da paróquia, mas de repente o homem começou a procurar os sacramento da confissão com mais freqüência, até mesmo de uma maneira exagerada.
Alem da presença constante do homem ao confessionário, aguçou mais ainda a curiosidade do pároco, deixando a impressão que algo de anormal estava acontecendo com o fiel, na realidade não era uma simples confissão, pois alem de elencar os seus pecados, inclusive lisonjeando da vida de luxuria que levava, sempre encerrava a confissão dizendo:
___ Oia seu vigário, agora tem dois pecadin quesse eu num confesso di jeito nenhum , so falo prum anjo si ele descê no meio da igreja agora.
Apesar da ampla insistência do sacerdote, o homem não abria mão desse detalhe: só se descer um anjo do céu no meio da igreja. O padre poderia muito bem negar a confissão tendo em vista que o homem não tinha confiança na sua pessoa, porem cada vez que o homem estava lá para confessar, mais que depressa o padre o atendia na firme esperança de um dia ser conhecedor de tão grave delito mas o homem sempre apresentava a mesma postura: confessava os seu pecados e encerrava dizendo:
___ E tem dois pecadin que não falo de jeito nenhum, só falo prum anjo si le descê no meio da igreja agora.
O tempo passou e o padre começou a arquitetar uma estratégia para desvendar tamanho mistério até que certo dia chamou o sacristão, homem já de idade avançada porem muito prestativo e contou o que estava acontecendo, sugerindo que havia idealizado uma parafernália de tal forma que o sacristão vestido de anjo com asa e tudo mais, iria descer por uma corda no meio da igreja bem na hora em que o homem viesse confessar, no momento o padre mostraria o anjo descendo, ele iria ficar apavorado, correria até o anjo confessaria estes dois graves delitos, o padre subiria o sacristão novamente e ficaria assim sabendo o pecado cometido pelo fiel e assim foi feito.
Dias depois o homem apareceu para a confissão, tudo estava esmeradamente preparado e no momento em que o homem disse:
___ Agora, aqueles dois pecadin só conto prum anjo si ele descê do céu aqui na igreja agora.
Do confessionário o padre acionou o mecanismo e o sacristão, vestido de anjo, amarrado por uma corda foi entronizado, descendo lentamente no meio da Igreja. Tudo correu conforme o esperado, o homem correu aos pés do anjo, nem observou na realidade quem era e foi logo confessando os seus pecados.
Terminado aquele momento, o sistema foi acionado novamente e o anjo sobe suavemente, o homem sai da igreja aliviado e o padre morrendo de curiosidade procura o sacristão na certeza que agora ficaria sabendo o tão grave pecado cometido pelo fiel e fica estarrecido quando ouve do sacristão:
___ Ahh seu Vigário, desci como um anjo, subi como um corno e estou falando com um Filho da P...