ILUSÃO DE CAIPIRA
Um rapazote criado no sertão, lugar distante da civilização, cresceu nos moldes dos costumes do lugarejo, mas depois da maioridade, cismou de vencer na vida assim, resolveu abandonar o campo e se mudar para a cidade grande, onde se ouviu uns fanfarrões dizerem que lá se juntava dinheiro com o rastelo.
Apesar dos conselhos paternos, o rapaz iludido com a vida fácil que idealizou existir na capital do estado, nem sequer deu ouvidos aos pais e amigos mais chegado, pegou suas parcas economias, vendeu algumas galinhas, dois capadinhos do chiqueiro, juntou suas surradas roupas, inclusive a de ir a missa, colocou tudo dentro de uma mucuta, foi para uma cidade vizinha onde passava o trem, comprou a passagem, pegou o cabeça de fogo, assim apelidaram a Maria Fumaça, locomotiva daquele tempo, e foi para a capital do estado.
Chegando então na estação central, fim da linha, lá desceu e pasmado com o movimento que via, andando entre a multidão, o rapaz tropeça numa carteira recheada talvez com muitos contos de réis, mas embebido com a imensidão da cidade e ainda iludido com o dinheiro fácil, chutou a dita cuja em sinal de desprezo e por cima ainda retrucou:
___ Mar cheguei e já tá mi atrapaino siô!
Andou perdido pela cidade, tudo parecia tão esquisito, um povo que ia e vinha sempre apressados, pareciam que nem notavam a sua presença, (e não mesmo), mas um outro detalhe chamou a sua atenção: não viu mais tanto dinheiro como aquele da carteira em que metera um pontapé.
Depois de alguns dias, entediado naquela enorme cidade, pelos lugares por onde passava, só sentia desprezo, perdido em uma pensão de quinta categoria, meditou sobre a sua visão de dinheiro fácil, o que parecia ser uma baita mentira, decidido retornou a estação, comprou passagem e retornou ao seu mundinho nos confins do sertão e lá viveu feliz para sempre, pobre sim mas, longe da ganância do povo da cidade grande.