O CASAL CAIPIRA E O DOUTOR
Perdidos naquele mundão de meu Deus, um casal de idosos viveram a vida toda na simplicidade, as doenças e enfermidade que por ventura tinham eram curadas com rezas, simpatias, chá de ervas ou temperos de raízes que usavam tradicionalmente, conhecimentos estes adquiridos ao longo dos anos e que punham em pratica no dia a dia.
A ideia de fazer uma consulta com um medico era rara naquele ambiente inóspito, na cidade sabiam que varias pessoa já haviam aderido a esta novidade, eles porem continuavam a sua vidinha simples, e com seu linguajar sertanejo, nada destas modernidades de gente civilizada que com seu palavreado complicado até pareciam estar mangando deles.
Certo dia porem a pobre senhora cai doente, uma enfermidade que os seus tradicionais remédios caseiros não surtiram efeito, vai daí que alguém sugere a ida ate o povoado pois lá havia um doutor muito bom que receitava uns remédios que faziam verdadeiros milagres assim, apesar de resistência mas diante de tanta insistência, numa madrugada o esposo e ela decidiram que iriam ao povoado para fazer uma consulta com o tal homem afamado e foram.
Realmente o doutor pareceu ser uma pessoa muito atenciosa, e esbanjava simpatia, desfazendo aquela ideia errônea que faziam das pessoas cultas, tanto é que depois de ouvir atenciosamente as queixas da bondosa senhora, após algumas perguntas e exames, o doutor faz o seu diagnóstico porem nem deu uma receita pois o medicamento ele tinha em seu consultório, assim os orientou sobre o uso do remédio e pediu que o procurassem na próxima semana para uma avaliação.
Após a Consulta o casal sai consultório felizes da vida, com a caixinha de medicamento na mão, já a caminho de casa ela perguntou ao marido, como tomava o dito cujo medicamento:
___ Ué minha veia, ocê não iscuitô o doto dize que era pra pô no reto
___ Ué meu veio. Iscuitá, eu inté iscutei, mas num intendi o que é isso.
O homem ficou um pouco pensativo mas só então veio a perceber que ele também não tinha entendido patavina, assim deram meia volta na carroça e voltaram ao consultório medico para perguntar como tomava o dita cujo remédio e gentil como sempre o doutor explicou tudo e já no caminho de casa, ela novamente pergunta:
___ Intão meu véio, ocê intendeu como tómo o remédio?
___ Ué, ocê num iscuito o dotor dize qui é simples, é so desinbruiá u cumprimidim e pô no anus!
Um instante de silencio na caminhada, só se ouvia o barulho das patas do cavalo e o ranger das rodas de ferro da carroça no leito seco da estrada e, derrepente uma nova indagação
___ Meu véio, mais o qui memo qui é anus?
Mais uma pergunta sem resposta e já um tanto quanto desconfortados com a situação, mesmo correndo o risco do doutor debochar deles pela insistência, tomam a arriscada decisão de voltarem ao consultório do médico para uma reorientação, pois de que adiantaria o medicamento se não fizessem uso dele.
Ao chegarem no consultório pela terceira vez, morrendo de vergonha ela aguarda o marido fora do estabelecimento, ele entra e instantes depois volta cabisbaixo, rosto vermelho como um pimentão e lastimando o momento em que viera no médico e rispidamente vai comentando:
___ Num falei procê que o doutor ia fica brabo, muié!
___ I o qui foi qui ele falô meu veio?
___ O maroto mandô ocê infiá este cumprimidim no C...
Voltaram para casa cabisbaixo, morrendo de vergonha do vexame que passaram na frente do doutor, lá ela retomou o uso de sua ervas e jogou a caixinha de supositório fora com o firme propósito de nunca mais procurar médicos na cidade.