PECADO CAPITAL
O caboclinho muito humilde vivia em seu casebre na maior simplicidade, cuidava de seus porquinhos, plantava sua rocinha na pequena propriedade, o suficiente para o gastos, hoje diríamos que vivia de uma agricultura de subsistência e levava uma vida feliz, vinha a cidade vez ou outra para vender alguns frangos e comprar o querosene e o açúcar necessário naqueles confins de mundo e tomar umas pinguinhas no boteco do compadre, o resto a natureza generosamente providenciava e não abria mão de suas pescarias todas as tardes de verão pelos brejos e alagados da redondeza.
Acontece que ele tinha como vizinho um homem que se dizia muito religioso e temente a Deus, frequentador assíduo da Igreja, não perdia as missas dominicais nem por decreto e, sistemático que era, não se conformava com a vida que o pobre caboclo levava, inconformado com a falta de ambição do feliz homem, não deixava passar em branco a oportunidade que tinha para alfinetá-lo, tachando-o de caboclo vagabundo.
Ambiciosos que era acredita-se que esta perseguição era nem tanto pela preocupação com o futuro do caboclinho, mas pela inveja que nutria pela vida que o rapaz levava, não se preocupando com o futuro, tanto é que certa vez, numa tarde quente de verão, o sol estava de rebentar mamona, ao passar nas proximidades do ranchinho, o caboclinho cochilava esticado em uma rede a sobra de uma frondosa guaiuvira, ele não perdeu tempo e a titulo de chamar atenção do caboclinho para os ensinamentos da Santa Madre Igreja gritou:
___ Ei Preguiçoso, você não sabe que a Preguiça é um pecado capital?
O caboclinho já acostumado com a implicância do vizinho, permanecendo deitado em sua rede, apenas tirou o velho chapéu de palha com o qual cobria o rosto e retrucou:
___ Ué siô, i a inveja é o quê?