AINDA TEM MURUNDANGA

O homem foi criado na cidade grande, longe do povo simples das pequenas cidades interioranas e um verdadeiro ignorante com referencia aos modos e costumes do povo da roças, sertanejos autênticos que carregam vivas os ensinamentos dos antepassados e que foram os grandes desbravadores dos sertões bravios, sobrevivendo graças aos conhecimentos que tinham, da natureza ajudados pela fé em nosso Senhor Jesus Cristo, os seus Santos e Santas de devoção e a rezas da Benzedeiras, curandeiras e Parteiras esparramados pelo sertão afora.

Vai daí que pelas voltas que o mundo dá, certo dia ele ganhou de afilhado de Batismo o filho de um desses camponeses, o tempo passou e um belo dia, ele recordando do compadre camponês que viu no dia do batizado a anos atrás e nunca mais havia topado com o pai e muito menos com o afilhado, resolveu certo domingo, visitar o compadre fujão la no meio do mato, saiu de casa no romper da aurora e foi de carro na casa do dito cujo sertanejo

Não conhecia bem o caminho, pois nunca tinha feito tal visita, mas como diz “quem tem boca vai a Roma”, perguntando daqui, informando dali, até que não foi difícil chegar a casa do homem e ai foi uma alegria só, o compadre, receptivo como todo bom sertanejo, já o convidou para entrar, deu ordem aos meninos maiores para pegar um carijó dos bons para preparar um frango caipira, no fogão de lenha, tradição do campo naquelas épocas, e temperado com colorau, tempero igualmente tradicional para esta ocasiões e que deixava uma coloração amarelinha na carne, tornando-a ainda mais apetitosa.

Não demorou muito o cantante gritou nas unhas da meninada, ele e o compadre ficaram na sala no bate papo e vez por outro, um dos meninos chegava até o pai e dizia

___ Pai, tem murundanga.

O Camponês concordava e ralhava com o menino, mandava ir brincar que a hora da murundanga ele avisava. Isso aconteceu bem uma meia dúzia de vez ou mais antes do almoço.

O compadre que não conhecia os costumes do campo ficou encafifado com aquilo, afinal de contas, o que seria a murundanga? Alguma comida típica e muito apreciada por sinal, haja visto que os meninos estavam ansiosos pela hora da murundanga.

O Almoço pronto, mesa posta naquele domingo especial, lá se vão para saborear a gostosa comida caseira que a comadre fez com muito esmero e, modéstia parte, tudo estava muito saboroso, mas lhe veio a mente: e a murundanga? Melhor seria não exagerar na comida para poder apreciar a murundanga.

Já findando o almoço, um dos meninos novamente faz a pergunta

___ Pai, e a murundanga?

O Homem, com ar de quem já não aguentava mais essa pergunta, com um jeito ríspido responde.

___ Tá bão menino teimoso, agora pode soltar a murundanga.

O menino saiu correndo e momentos depois uma grande cadela perdigueira adentrou a cozinha, devorando os ossos que as crianças jogaram no chão.

Era a Murundanga.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 11/04/2012
Reeditado em 12/04/2012
Código do texto: T3607503
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