A MULHER QUE PEDIU A MORTE

A vida era difícil naquele ermo de meu Deus, a mulher vivia só, entocada em seu casebre construído no pé da serra, perdera o marido, e como não teve filhos, era ele seu único companheiro por longo tempo e depois de sua morte, ela não se interessou por homem algum, hoje trabalha para se sustentar, durante o dia, a roça recebe os seus cuidados, apesar da pequena extensão de terra cultivada com uma agricultura meramente de subsistência, ao cair da tarde, de retorno ao rancho, o cuida com carinho dos pequenos animais domésticos baseado em algumas dezenas de galinhas e dois ou três porquinhos de engorda no chiqueiro e, alem do asseio do terreiro e da casa, sobra ainda a necessidade de providenciar, geralmente dia sim e dia não, a lenha que é retirada de uma restinga de capoeira nos fundos da pequena propriedade.

Todos os dias em que ia providenciar uns gravetos na mata, seguia um ritual nada comum, após ajuntar um feixe deles, sentava sobre ele a se lastimar:

___ Oh vida Sofrida esta minha! Bem que a morte pudia aparecê pur aqui.

Após lastimar bastante, fazia uma ródia como avental que servia de apoio para o feixe de lenha que ia sobre a cabeça, subia para a casa para os demais afazeres domésticos, e dia sim dia não, essa era a rotina da sertaneja e as lamurias se repediam como um ritual.

Conta-se que certo dia, após ajuntar um mote de gravetinhos, a mulher como sempre, senta sobre o monte de lenha e começas a lastimar:

___ Oh vida sofrida! Bem que a morte pudia aparecê pur aqui agorinha memo e ....

Nem acabara de falar e como num passe de mágica, eis que surge a sua frente um homem vestindo um elegante terno de caxemira preto e ela leva um baita susto quando aquele estranho ser lhes dirige a palavra

___ Me chamou? Estou aqui, sou a morte ao seu dispor, pode pedir e realizarei o seu desejo...

A mulher sente um arrepio dos pés a cabeça, as pernas bambas e toda tremula mais que depressa responde:

___ Num quero nada não siô! Só pidia argúem pra ajudá pô este feixe de lenha na minha cabeça. O sinhô podi? ....

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 04/04/2012
Reeditado em 05/04/2012
Código do texto: T3594812
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