Uma Voz Fraca

Há uma voz fraca, enquanto ele dorme as vozes dançam como em um sonho indefinido. Ao seu redor há o som do rádio e seu rosto está molhado, ele parece não conseguir dormir.

O cigarro que acende o distrai, há lagrimas que caem de seus olhos. Ele olha para o céu sem nuvens. Ao seu redor nada faz sentido. O vento toca seu corpo quando ele acende mais um cigarro. Não há ninguém na rua, não há ninguém ao seu lado.

Ele anda pela casa e acende as luzes. No sofá da sala ele escreve sobre seu passado. Seus olhos ardem de sono, há seringas e cocaína na mesa. Uma dose de vodca o acompanha, não há fotos de sua vida. Ele boceja, seus olhos o engana. Ele enche seu copo mais uma vez enquanto olha para o céu pela janela.

Ele deita no sofá e caem lágrimas dos seus olhos e vão rolando até o chão. Seu reflexo no espelho não é o que ele deseja ser. Ele vê anjos dançando no céu, há cores caindo no chão. O sol entra pela janela, ele fecha as cortinas. Há anjos dançando no ar. Anjos o protegem.

O sol está indo embora quando ele acorda. O seu celular toca mas ele não atende. Há um pássaro na janela. Ele não percebe a noite sendo seu dia. A ficção e o real se confundem. O pó entra pelo seu nariz. Ele nunca se arrepende. Ele se perdoa por perder a fé. Sua vida é um inferno maravilhoso, ele diz coisas sem sentido. O silêncio reina e ele inventa uma nova canção.

Não há canções românticas, nada o faz sorrir. Agora a fumaça do cigarro o incomoda, o gosto do café o irrita e sua apatia o destroi. Ele quer ser sempre melhor, ele quer se superar, ele não perde tempo chorando. Ele nunca mudará para agradar alguém, ele não deseja ser o amante perfeito, não quer ser perfeito para ser amado, ele sempre surpreende as pessoas. Ele escolhe uma pessoa em qualquer esquina para dividir a noite ao seu lado. Ele não lembra das pessoas que já dormiram ao seu lado.

Sete dias, sete pessoas, sete doses de vodca. Quando eles vão embora ele não dorme, há algo inato que o leva à autodestruição. Ele nunca mostra sua fraqueza, sua doença é viver. Sete comprimidos a cada dez horas, sua vontade é de não viver. Talvez seja covarde para tirar sua própria vida. Mas não toma seus remédios esperando o momento de ir embora. Na sua solidão nada mais o importa.

O sol entra pela sala, ele acorda desnorteado, olha para o relógio e se assusta, são dez da manhã. Há um choro em sua garganta. Ele ainda não suporta a dor da solidão. Ele sente vontade de sumir. O desejo de cheirar até morrer. Uma garrafa de vinho está em suas mãos, ele bebe toda a garrafa em três goles.

O relógio marca quatro da manhã. Ele sai da cama e acende um cigarro. Havia mais uma pessoa deitada na cama. Quando o sol nasceu esse alguém se foi. Ele se sente vazio a cada dia. Ele não se envolve com as pessoas que fica.

Há festa na rua em que ele mora. Ele só observa da janela do seu quarto as pessoas que enchem a cara na rua. Ele entende que está sozinho porque não quer ser como essas pessoas que ele sente pena. Ele é ele mesmo, mesmo quando tudo está se perdendo. Nada importa para ele. Ele já perdeu tudo aquilo que pra ele era valioso. Seu raio de sol, seu anjo.

Há um passado escondido em seus olhos verdes, há uma história incompleta. Tudo parece estar rodando. Há asas nascendo em suas costas e espada em suas mãos. Em seu peito o coração acelera e ele luta contra algo. Ele sonha com um menino. Ele deseja alguém que não pode Ter. Sua doença o faz ser frio e cruel. Atrás de todo esse egoísmo há um amor intocado por alguém que está distante de seus braços.

Ele só é mais uma criança desesperada procurando paz interior. Ele ama e não sabe como amar.