Matutando pelo Brasil afora II – Primeira parada!
Saudações companheiros!
Retomando a minha saga lá nas terras centrais de meu Brasil, vou descrevendo aqui coisas interessantes desse primeiro impacto com essa região. Retomando a descrição do quadro que iniciei no primeiro conto sobre minha estada em Goiânia, diria que além de “muito fria”, a vegetação, o relevo, e as pessoas por ali eram bastante diferentes. Muitos entre nós nunca haviam viajado para lugar tão longe e é fácil entender esse primeiro impacto. Pois bem, como já referi no outro conto, aconteceu um choque térmico. Uma boa parte de nós caiu doente, febril e com muito resfriado. Eu não escapei desse mal. Ou melhor, fui o primeiro a me abater!
Para descrever melhor a nossa estada por lá vou roubar os próximos parágrafos de vocês, meus sóbrios senhores, e descrever o motivo de estarmos ali e como estávamos cumprindo nossos intentos.
Àquele ano de 2005 foi marcante para as manifestações populares. O MST se fortalecia e comandava uma Marcha Nacional pela Reforma Agrária no nosso país. Tantos outros movimentos sociais estavam incrustados em nosso meio, engrossando o “coro dos excluídos” que emitíamos à sociedade e aos governantes naquele momento. No principio eram 10 mil pessoas em marcha, mas logo foram chegando mais integrantes e somávamos 15 mil pessoas em dois ou três dias. Marchávamos em três fileiras todas as manhãs, a partir das cinco horas.
Era uma organização tremenda nessa nossa manifestação: uma fila enorme, dividida em três fileiras. Existiam integrantes de 23 estados brasileiros. A fila estava organizada de maneira que cada estado comportava uma faixa dela. Cada estado também tinha sua organização e a Paraíba estava organizada em quatro Brigadas de manifestantes, cada brigada também ocupando uma faixa do nosso estado nas fileiras. Para título de informação as nossas quatro brigadas eram: Sertão, Cariri, Curimataú, Zona da Mata/Litoral. Na logística existiam várias equipes de apoio como: equipe da saúde, para atender aos doentes; Equipe de animação e mística, para realizar os atos culturais da manifestação; Equipe de Barracas, para construção e desconstrução das barracas onde ficávamos acampados; Equipe de formação, que ficava responsável pelos momentos de estudo; E um grupo de jovens, para animar a juventude ali presente.
A Marcha durou 17 dias e foi da cidade de Goiânia a Brasília. Em cada dia andávamos uma distância pré-estabelecida até alcançarmos o ponto onde estavam as barracas. Ficávamos acampados em barracões coletivas com três ou mais estados por barracão. Cada dia o itinerário era o seguinte: marchar de manhã; almoçar; descansar; e à tardinha tínhamos o momento de formação, quando nos reuníamos e discutíamos os motivos de estarmos marchando. Estudávamos muitas coisas e aquilo foi uma formação muito interessante para cada um de nós que estávamos ali. A noite também era de descanso e, vez por outra, a equipe de animação realizava noites culturais.
Era esse o quadro que se desenhava naquela manifestação. O primeiro dia de marcha foi o mais cansativo. Motivos existiam aos montes para isso: era o primeiro dos esforços; diziam que foi o dia que marchamos a maior distância (26 km); Já estávamos sob o efeito do choque térmico que sofremos ali; sem contar com estranhamento inicial que sofremos naqueles momentos, pois tudo era bastante novo para a maioria.
Pois bem, o primeiro dia transcorreu de forma cansativa e tensa. Houve um principio de confusão entre a polícia e os manifestantes, mas logo se tranquilizou tudo. Marchamos com muita animação e gritando a todo fôlego: Reforma Agraria!.. Justiça social!!! Cantávamos a plenos pulmões canções de chamada à luta popular e à reflexão do povo como “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores”; “Disparada”; e “Tocando em Frente”. Ouvimos gritos de insultos e outros de elogios. Transcorremos cidades até que se cumpriu aquele primeiro trecho de nossa marcha.
Extenuados, porém animados, começamos nossa trajetória naquela que seria uma das maiores manifestações populares da história do Brasil. Algumas coisas interessantes eu contarei mais adiante, meus caros, se vocês tiverem parcimônia para ouvi-las, ou melhor, lê-las.