O CABOCLINHO CAMINHONEIRO
O caboclinho foi criado na roça mas não gostava do cabo do guatambu de jeito nenhum, só vivia fazendo corpo mole, puxar enxada de baixo do sol escaldante não era com ele e loroteiro como era sempre dizia que quando pegasse a maioridade iria se mandar da roça, era chegado ao cheiro de gasolina e não podia ver um caminhão que o rapaz já ficava desatinado, dizia que o seu maior desejo era ser caminhoneiro.
Embora ninguém desse um tostão furado pelo rapaz, ele tinha lá sua qualidades e era tinhoso como que, quando botava uma coisa na cabeça, era perseverante, assim a idéia de se tornar motorista foi aos poucos se tornando realidade embora naqueles confins de meu deus, ser uma profissão de pouca valia, isso dava mais margens ainda para o rapaz ser taxado de vagabundo.
Certa feita, surgiu boato que numa cidade vizinha iriam construir uma usina hidroelétrica e que uma grande construtora estava contratando pessoas para os serviços no canteiro de obra, precisavam de muita gente e mesmo que não tivessem qualificação alguma, a empresa oferecia rápidos cursos profissionalizantes, assim o caboclinho se aventurou, pois era a chance que esperava para sair da roça e foi contratado.
Uma vez no novo serviço não demorou muito para que conseguisse a tão sonhada carteira de motorista e assim poder dirigir um caminhão e não é que o danado se tornou um homem trabalhador, responsável e graças a sua curiosidade, um excelente profissional do volante.
Contou ele que certo dia foi buscar uma peça na capital do estado e na volta, a certa altura do caminho, o caminhão quebrou e como ele era um misto de motorista e mecânico, logo descobriu que havia quebrado o cardam do caminhão, uma grossa e roliça barra de ferro que ligado a tomada de força do motor e aos do eixos traseiros, girando conforme o giro do motor, faz com que o veiculo se locomova. Identificado o problema, coçou a cabeça, o lugar era deserto, distante de postos de gasolina, distante de cidades, naquele tempo não havia a facilidade que hoje temos e celular nem se pensava em sua existência assim o negocio foi sentar a beira do caminho e esperar por uma ajuda, algum caminhoneiro que por ali passasse, mas era um final de semana e quase não tinha movimento na rodovia, diferente dos dias de hoje.
Assim foram quase uma hora de espera quando o caboclinho, olhando para uns pés de eucaliptos que se esgueiravam as margens da estrada, viu que um destes crescera reto e que o seu diâmetro assemelhava ao do cardam quebrado, de posse de um machado, adentrou na mata e derrubando o dito cujo, esculpiu-o no formato da peça quebrada e com muito jeito, substituiu a pela outra feita de madeira de eucalipto.
Serviço feito, era então momento de testar a gambiarra, deu partida no veiculo, acelerando lentamente o caminhão deslizou pelo leito da rodovia e em pouco tempo o caboclinho estava em sua terra de origem juntamente com a encomenda que fora buscar e ao passar pelo boteco que freqüentava rotineiramente, não podia fazer desfeita, então parou, deixou o caminhão estacionado e adentrou ao estabelecimento para tomar uma branquinha e limpar a goela, ainda estava de conversê com os amigos de copo quando alguém informa:
___ Roubaram o seu caminhão!
Ele saiu as pressas e observou que o caminhão ia em marcha ré, correu desesperadamente na tentativa de alcançar o veiculo, o que conseguiu sem muito esforço pois o veículo vagava lentamente pelo leito do rua íngreme, consegue adentrar na cabine e tomar rédea da situação e depois de tudo contornado, estaciona novamente o veiculo e só então percebe que tudo ocorrera por conta da peça de eucalipto que colocara no lugar da peça quebrada, com a força do motor para tracionar o caminhão, o eucalipto foi aos poucos se cochando, uma vez estacionado o caminhão, a peça foi desacochando, procurando voltar ao seu estado normal, com isso o caminhão começou a caminhar de ré e se ele não fosse ágil o bastante, com toda certeza o caminhão teria voltado ao ponto em que havia quebrado.