MAIS VALE A FÉ QUE O PAU DA BARCA

Dizem que mais vale a fé do que o pau da barca, ditado muito usado cá pras bandas de minha terrinha querida, verdade ou mentira, não sei dize pro sinhô não, porem disseram meus antepassados que certa vez existia por cá um homem, rapaz novo ainda, mas muito medroso, não andava em noites escuras sozinho de jeito nenhum.

Vai daí que certo dia seu pai foi ofendido por uma cascavel e como naquela época não existiam recursos médicos neste ermo de Deus, alias, nem se ouvia falar em medico, os únicos recursos na saúde vinha de um pratico farmacêutico no povoado a léguas de distancia ou então, de um famoso benzedor e macumbeiro em um bairro não muito próximo, porem na maioria das vezes era a ele que recorriam os sertanejos em busca de socorro para sua mazelas.

Devido o fatal acidente, como já era no cair da tarde, sem recursos por ali, o pai ordenou ao filho para arrear o cavalo e zarpar para a casa do benzedor o mais rápido possível, pois somente lá poderia encontrar recursos para salvar sua vida. Era sabido por todos que ele não precisa nem estar presente, era preciso que apenas uma pessoa da família fosse até ele, lá ele fazia seus benzimentos ou mandingas, colocava a água benzida numa garrafinha, entregava para o mensageiro orientado para o dente beber daquela água e lavar o lugar do ferimento que tudo ficaria resolvido.

Mesmo a contra gosto, morrendo de medo, pois caminhada até a casa do benzedor era longa e com certeza ao voltar a noite o pegaria a caminho, e para completar o causo, era período de lua nova, a noite estava escura como um breu e nenhuma outra pessoa se prontificou em fazer companhia, mas como o que não tem remédio, remediado está era hora de mostrar que era homem de verdade. Será?

O rapaz foi voando no seu alazão até a casa do dito cujo benzedor, lá narrou o acontecido, o homem prontamente vez suas rezas, entregou em uma garrafinha a água benta, o rapaz afobado, não com o pai que estava no leito de morte, mas com o adiantado da hora e a noite que chegava, mal agradeceu o benzedor, montou no seu alazão e retornou para casa num galope só sumindo no estradão mas mesmo assim a véu da tenebrosa noite o envolveu ainda distante de casa, mas não deu tréguas ao cavalo e pernas para que te quero, seguia num galope lascado.

Faltava pouco para chegar em casa,quando passando por uma restinga de mato, onde a estrada tinha uma descida acentuada e ao fundo da ribanceira corria um pequeno e caudaloso riacho, como que por castigo do destino, o cavalo tropeça em uma pedra e a garrafinha de água benta sai de sua algibeira, caindo sobre uma pedra, espatifando-se em centenas de caquinhos e a água com certeza desapareceu penetrando no solo ressequido do leito da estrada.

E agora, o que Fazer? Retornar ao benzedor aquela hora seria muita pretensão, foi ai que lembrou da garrafinha de cachaça no alforje da montaria, havia levado para dar coragem mas como o medo foi tanto até esqueceu de usar a danada, sem pestanejar, jogou a pinga fora, desceu ao pequeno riacho, encheu a garrafinha de água e seja lá o que deus quiser, pensou com seus botões, e rumou para casa com a preciosa encomenda.

Ao chegar em casa encontrou a mãe, os irmãos mais novos e alguns vizinhos solidários desesperados rezando o rosário pedindo a interseção de Nossas Senhora das Graças e de São Bento, ao perceberem a chegada correram ao encontro do rapaz agradecidos com a rapidez e sem delongas, trataram de lavar o local ofendido pela serpente e dar alguns goles daquela água ao moribundo. Minutos após aos cuidados prestado com a suposta água benta, o homem começou a apresentar sinais de melhora, no raiar do dia já estava fora de perigo e dias depois foi ate o benzedor agradecer a bondade daquele homem abençoado e ofertar um agrado pelos serviços prestados, só muitos anos depois, o herói da historia relatou o acontecido.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 20/02/2012
Reeditado em 20/02/2012
Código do texto: T3510408
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