Zoofilia, uma ova!

(Theo Padilha)

Tudo isso aconteceu no ano de 1964, na cidade de Joaquim Távora, palco de muitas histórias. Era um domingo de verão quando três amigos saíram para giro na cidade. Eram eles, João, Juracy e Tião. Os amigos eram da mesma idade, 16 anos. Depois de umas cervejas no Bonamigo`s Bar e uns tiros no parque de diversão que havia na cidade eles trocaram umas idéias:

─ Rapazes! Eu já estou com sono e muito cansado, vamos embora! – disse João.

─ Espera aí gente, eu tenho uma idéia melhor, vamos levar umas cervejas e descansar na chácara do meu avô, lá na saída da cidade! – gritou Juracy, neto de um velho libanês.

─ Aquilo que vocês pensarem eu topo, vamos logo então, não suporto mais essa soneira! Porque fomos amanhecer naquela serenata! – atalhou Tião, que era tipógrafo na única gráfica da pequena cidade.

E foram os três. João era o artista da turma. Tocava muito bem violão. Veio de Ribeirão do Pinhal, tinha umas lindas irmãs, estava desempregado e havia acabado de chegar à cidade. Juracy era filho do dono de uma mercearia. Onde ajudava o pai.

─ Até que enfim chegamos! – disse João.

─ Eu quero nadar naquele riozinho! – gritou Tião, que adorava nadar. Nascera às margens do rio do Peixe em Caçador, estado de Santa Catarina, onde toda a família nadava.

─ Vocês vão gostar daqui, é o meu lugar preferido para namorar! – comentou Juracy, dando um bico na cerveja.

Assim que se sentaram sob a sombra das árvores, apareceu um menino que montava uma égua. Ele tinha vindo trazer o animal para pastar. E os três rapazes começaram a mexer com o menino em tom de brincadeira.

─ Hei menino, vamos transar com essa bela égua? – disse o safado do “turquinho” Juracy como era apelidado.

─ Vão transar com as mães de vocês seus cachorros! – vociferou o menino, cheio de ódio daqueles três.

─ Com a tua seu vagabundinho! – falou o João, ameaçando bater no menino.

E ali começou aquela troca de ofensas. Cada um querendo ofender mais do que o outro. Quando o menino estava quase chorando, apareceu o Alziro, um senhor de idade, pai do menino.

─ Vamos embora, filho! Vamos chamar a polícia! – disse o homem, meio com medo do trio.

O pai e o filho rumaram em direção a cidade. Os rapazes ficaram ali cantando e acabando de tomar a cerveja. Meia hora depois apareceu o velho Alziro e o soldado Bispinho.

─ Vocês três estejam presos e me acompanhem até a delegacia! – exclamou o soldado que era conhecido dos três.

Então foram todos os cinco. Por azar o Alziro levava um chicote na mão e montava a égua. Os outros seguiam a pé na frente. Ao passarem no bar do Tozo, que estava cheio de gente, todos saíram à porta do bar para assistir o desfile. Todos já sabiam da prisão. E um dos amigos dos rapazes que estava no bar e era até meio parente do Juracy, insinuou que os rapazes estavam indo casar com a égua. Aquilo foi a gota d água.

─ Olha lá, os três estão indo casar com a égua! – Gritou o Antonio Anis.

Chegando à cadeia pública foram entregues para o Sargento Milton que os fechou. Os três estavam nervosos e envergonhados. Os rapazes levaram muita sorte, porque o Sargento Milton, era muito amigo deles. E acreditou na contestação dos rapazes. Não acatou a história. Como o Alziro não arredou o pé dali da delegacia, ele disse para os garotos saírem pelos fundos. E assim foi. Desse fato nasceram as piores gozações, os três sofreram muito na língua do povo.

─ Quem segurava a égua? O Osvaldo celeiro vai fazer o enxoval de casamento! – E muitas outras coisas foram ditas.E os rapazes ficaram um bom tempo sem ir ao cinema. Quando eles entravam no cinema os seus amigos davam uma rinchada, imitando a égua. Foram apelidados de “rincheira”, etc. Lamentavelmente o menino, que era o dono da égua, morreu num acidente de carro, logo depois disso. Ele foi a única testemunha da história. Há uma capela no local do acidente, próximo a entrada para o Caça e Pesca, na estrada de Guapirama. E o Alziro, seu pai, já é falecido. Que Deus os tenha.

Joaquim Távora, 27 de janeiro de 2012. Theo Padilha.

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 27/01/2012
Reeditado em 27/01/2012
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