O CABOCLINHO E O GÊNIO DA GARRAFA

Dizem que o caboclinho, quase sexagenário tava andando nas coivara duma queimada que havia feito para o preparo de uma roça de milho, ia cabisbaixo, pensativo, ninguém atinava a que, mas deste que enviuvou, não se via mais a alegria na fisionomia do pobre homem. Ele caminhava desatento quando derrepente tropeça numa garrafinha de vidro, algo incomum naqueles lugares, principalmente após uma queimada. A garrafa estava tampada com uma rolha, não sabemos porque mas isso aguçou a curiosidade do caboclinho que se abaixou, pegou-a e notou que dentro estava cheio de fumaça, foi quando uma voz se ouviu

___ Destampa a garrafa!

O caboclinho olhou por todos os lados, não viu ninguém e a voz se repetiu

___ Destampa a garrafa!

Agora a coisa ficou séria, o caboclinho novamente observa por todos os arredores mas vê nenhuma moita onde compadre Gusto, aquele brincalhão de uma figa pudesse estar escondido só pra depois sair falando pro bairro inteiro que ele havia se borrado de medo, ameaçou jogar a garrafa, mas a voz implorou:

___ Não faça isso! Destampa a garrafa!

Era apenas uma garrafa de vidro, que mal poderia estar ali dentro? Meteu mão na rolha e destampou a garrafa, tomou um baita susto com a quantidade de fumaça que saiu de dentro dela e susto maior quando, como num redemoinho, a fumaça se tronou num belo jovem bem ali na sua frente. Atônito com o que via, não sabia se corria ou se gritava, apenas deu um passo para traz e exclamou:

___ Ô loco sô!

E aquele abem apessoado jovem disse

___ Obrigado por tirar a rolha da garrafa, faz mais de mil anos que estou preso nesta garrafa, por isso sou muito grato por ter me livrado, faça três pedidos e será concedido agora.

O Homem que ouviu tudo, ressabiado pergunta

___ Tudim memo?

O gênio confirmou que tudo o que pedisse seria realizado, mas lembrou que era apenas três pedidos e nada mais.

___ Virgi Maria! __ Exclamou o caboclinho boquiaberta __ O cumpadi Gusto já tinha falado desta história du gênio, puis num é queu num aquerditei!

O gênio, vendo a admiração do homem, cobra uma decisão:

___ Rápido com os pedidos, pois depois de ficar mil anos na garrafa tenho muita coisa a fazer...

O caboclinho tomou coragem e como se diz, o santo que for, ore por nobre e mandou o primeiro pedido

___ Tá bão, intão quero tê muito dinhero.

O gênio num passe de mágica fez surgir na frente do caboclinho um saco cheio de dinheiro, o suficiente para viver o resto da vida na maciota.

O caboclinho admirado ainda perguntou:

___ Intão posso fazê otro pedido memo:

Com um sorriso nos lábios e balançando a cabeça, o gênio confirmou e o caboclinho mandou o segundo pedido:

___ Intão agora quero tê uma muiè bem bonita, iguar nhá Rita, minha finada esposa era quando inda mocinha i qui goste d’eu qui nem ela gostava.

E zás, o gênio trouxe a sua frente uma linda e sorridente jovem. O caboclinho extasiado com a beleza da mulher e não se cabendo de alegria, ficou como que paralisado até que o gênio interpela;

___ E o terceiro pedido?

Ainda ressabiado com o que via, mas diante de tamanha felicidade, o caboclinho mandou com convicção o terceiro pedido:

___ Quero tê u bichu di pé pru resto de vida.

Apesar de ser um gênio, o jovem não entendeu este pedido, afinal de contas o caipira não parecia nada bobo e estava se saindo tão bem até aquele momento, por isso o interpela para ter certeza do estranho desejo:

___ Bicho de pé?

E o caboclinho justifica:

___ Simsinhô, di que adianta esta belezura toda e mais esse sacão de dinhero, se meu bichim num ficá di pé seu moço!

Pois é só pra vocês vê,

só então que o gênio foi entendê,

nesta vida, as três coisas que o homi mais qué:

Dinheiro, muié e o bicho de pé.

Realizou o desejo do caboclinho e evaporou no ar.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 18/01/2012
Reeditado em 19/01/2012
Código do texto: T3448589
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