Os Fugitivos
Os Fugitivos!
(Theo Padilha)
Vamos narrar uma história real que aconteceu em Joaquim Távora. Cidade pólo do norte velho paranaense, sendo os dois: Tiãozinho e Toninho, personagens dessa história.
Os dois adolescentes gostavam de tudo na época, Beatles, e todos os cantores da Jovem Guarda liderados por Roberto Carlos. Gostavam muito de cinema. Toninho sempre se achava parecido com um galã. Não perdiam filmes, de todos os gêneros. Dessa vez foram ver um filme muito bonito. Era um filme que falava da Espanha, das touradas. E o filme terminava com a música que eles gostavam muito: Granada. O filme marcou nas suas vazias cucas. Do cinema para um bar que havia na praça. Ali comentaram o filme e tomaram muita caipirinha e cerveja. Quando o dono do bar lhes pediu para fechar o bar, Tiãozinho, o mais velho disse:
− Eu não agüento mais, Toninho. Vou embora dessa cidade, agora mesmo! Ninguém gosta de mim, aqui. Vou embora, vou ser alguém depois eu volto!
Aquilo deixou todo mundo atônito. Os amigos se entreolharam com pena daquele rapaz. E Toninho era um de seus melhores amigos, quase um irmão. Saíram todos do bar e foram para a praça cantando Granada. Ali conversaram muito Eram quase duas horas da manhã os dois amigos ainda estavam lá na praça, a noite estava muito quente. Tiãozinho não tirava a idéia de ir embora da cabeça. Toninho que sempre fora solidário para com os seus amigos, tomou as dores do amigo.
─ Pois eu vou também, Tiãozinho! Vamos para São Paulo. Lá eu vou ser ator e um dia voltaremos com o melhor carro do ano, para esta cidade!
Eles não tinham nem mais um tostão. Bebiam fiado no bar da praça. E até entraram no cinema de ratão, como ali é falado. O barzinho do cinema ficava do lado de fora, e era comum os meninos, fingirem que haviam saído para comprar balas. Era só entrar com umas balinhas na mão que o porteiro não barrava ninguém. O ingresso tinha que ser colocado na urna para a confecção do famoso “Borderaux” (Borderô). Não havia comprovantes de saída. Nem toalete existia no cinema.
E rumaram para a estação ferroviária. Os dois. Cantando e seguindo a estrada de ferro em direção à São Paulo. Só uma tímida lua era testemunha daquilo. Andaram muito. E depois de alguns quilômetros estavam em um postinho ferroviário, chamado Humberto Pederneiras. Já de ressaca eles procuraram água. E Tiãozinho sabia de um poço do lado da estação. O dia já estava amanhecendo. O pior é que quando jogavam o balde este não enchia. Eles não perceberam que o balde era furado. E que quando chegava à boca do poço já não tinha mais nada de água.
─ Olha ali Tiãozinho! Há água naquele tanque de lavar roupa. Vamos tomar, senão vamos morrer de sede! – disse Toninho, feliz.
─ É água com sabão, Toninho!
─ Eu vou tomar, não agüento mais, não quero morrer de sede! – respondeu o amigo.
E beberam daquela fétida água. Era a única alternativa.
─ Já são quase seis horas da manhã. Já está na hora do trem noturno chegar de Curitiba. Vamos esperar e pegar uma carona. Vamos tentar chegar a Marques dos Reis, onde o meu irmão trabalha! – disse Tiãozinho.
─ Eu já estou meio arrependido, Tiãozinho! Será que minha mãe já está sabendo?
─ Claro que não, Toninho! De Marques dos Reis nos ligamos contando onde estamos!
─ Seja o que Deus quiser! – respondeu o Toninho.
Logo depois o trem parou na pequena estação. Sua parada era rápida. Eles subiram nos vagões de segunda classe e começaram a caminhar por dentro do trem já em movimento. Eles procuravam um conhecido para poder emprestar dinheiro. E logo viram um senhor gordo que viajava em pé.
─ É o Sr. Paulito! – gritou Tiãozinho.
Paulo era o chefe da estação de Joaquim Távora que estava indo para Ourinhos fazer compras. Ele era amigo dos pais de Tiãozinho e do seu irmão.
─ Bom dia, Tiãozinho! Para onde está indo? – perguntou o senhor.
─ Eu e o Toninho estamos querendo ir para Marques dos Reis, mas perdemos o nosso bilhete e estamos sem dinheiro. Será que o senhor poderia nos emprestar o dinheiro da passagem? – arriscou o jovem timidamente.
─ Pode deixar Tiãozinho, o chefe do trem é meu amigo e conhecido vou lhe pedir que os conduza até Marques dos Reis! – disse o amigo.
Então viajaram em paz. Quando chegaram ao destino, o irmão de Tiãozinho veio lhes receber com um austero tom de voz.
─ O que vocês fizeram? Joaquim Távora inteirinho está à procura de vocês! – gritou o telegrafista, Justino.
─ Nada, não fizemos nada! – disseram os meninos.
Ficaram sabendo depois que a cidade comentava que havia um louco na pirambeira que havia matado umas crianças. E o Justino logo avisou a estação de Joaquim Távora, que avisou os pais dos garotos. No aviso o telegrafista disse que lhes estaria devolvendo os meninos no primeiro trem que partisse para Joaquim Távora. Depois disto alimentou os rapazes e os aconselhou a voltarem para casa. E assim foi. No primeiro trem eles voltaram, envergonhados e arrependidos.
Quando o trem chegou à estação, havia cerca de 200 pessoas esperando os fujões. Foram recebidos como heróis de guerra. Foi um alívio para as mães daqueles dois maluquinhos. O difícil foi agüentar as gozações. Uns queriam saber qual dos dois fujões era a mulherzinha. Eles ficaram um mês sem sair às ruas, sem ver os seus filmes no velho Cine Caiçara. Foi realmente uma aventura.
Joaquim Távora, 17 de janeiro de 2012. All the rights by Theo Padilha©.