O PADRE E O CORONEL ATEU

O padre do lugarejo tinha um Jeep ano 51 e já andava graças a fé do homem de Deus e a ajuda do único mecânico do lugarejo que curioso com que dava assistência técnica gratuita ao seu vigário.

Certo dia o homem de Deus foi celebrar uma missa num ponto muito retirado do lugarejo, lugar deserto onde a igrejinha, o melhor dizendo, uma capelinha rural ficava embrenhada entre as montanhas, numa barroca de dar medo. Como era um ponto distante do lugarejo, o padre saiu no romper da aurora, precisava chegar lá a tempo de ouvir as confissões dos fieis, dizer a missa e retornar antes do por do sol pois andar a noite naqueles cafundó era de arrepiar os cabelos..

Assim foi, tudo corria bem ate a sua volta, quando mais ou menos na metade do caminho, o ronco do motor do velho Jeep começou a falhar e por fim parou de vez, o sacerdote logo percebeu que o problema era falta de combustível, e quando foi pegar o galão que costumeiramente carregava cheio de gasolina, percebeu que havia esquecido o dito cujo na casa paroquial, assim sendo o negocio agora era esperar que alguma alma bondosa passasse por ali para prestar socorro e rezar para que isso acontecesse logo, pois se a noite chegasse naquele lugar ermo, o homem de Deus corria o risco até de ser devorado por alguma onça faminta.

Não demorou muito, lá vinha montado em seu puro sangue um conhecido coronel da região, homem de muito dinheiro mas que detestava a igreja e tudo aquilo relacionado a ela, era ateu e não acreditava em nada mais alem de seu rico dinheirinho com o qual tinha a ilusão de poder comprar tudo, alem do que o padre vivia enchendo a cabeça de seus agregados com leis trabalhistas e outras lenga-lenga.

Deparando com o homem de Deus ali no meio da estrada, se encheu de satisfação, não perderia por nada a oportunidade de desmascarar este vigarista, alias, o “Seu Vigário”, então, foi aproximando lentamente do veiculo parado, trazendo no rosto os ares da alegria e o padre, aliviado foi logo pedindo ajuda, informando que havia acabado a gasolina e ele precisava chegar até a cidade que ainda estava distante, ao que coronel lhe respondeu:

___ O seu Vigário, o que o sinhô qué qui eu faça? O representante de Deus aqui é o Sinhô não eu. Sinhô num diz qui ele não disampara os seus, puis intão, sivire com ele sô!

O homem ateu passou adiante, olhou para o padre e esculachando, aconselhou:

___O Sinhô num é homi de fé? Puis intão, pru que o sinhô num mija num tanque de gasolina, dá partida e vai simbora sô!

Dito isso, ficou de alma lavada, deu ordem ao seu alazão e seguiu trotando contente estradão afora, deixando para traz o padre e seu Jipe. Felizmente instantes depois passou por ali um caminhoneiro temente a Deus, o que poderíamos até dizer que foi um milagre pois esta cena era raríssimo naqueles confins de meu Deus, que ajudou o padre colocando gasolina o suficiente para que o mesmo chegasse na cidade.

O padre agradeceu, entrou no Jipe, deu partida e seguiu caminho, indo alcançar o coronel já pertinho da cidade, deu uma buzinada e passou por ele sorrindo.

Jamais imaginando o que alguma outra pessoa pudesse ter ajudado o padre naquele lugar ermo, porem lembrando do conselho que dera, o coronel resmungou:

___ Putá merda! Vá tê fé assim lá nus quinto dus inferno, sô!

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 11/01/2012
Reeditado em 11/01/2012
Código do texto: T3435670
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