É GENTE DA GENTE
Maltrapilhos, andarilhos sem ter sequer um gato pra puxar pelo rabo, levavam a vida naquele povoado esquecido por todos, principalmente políticos que em anos eleitoreiros apareciam por lá oferecendo o mundo e o fundo, porem passado o pleito, esqueciam das promessas e nada faziam por aquele lugar, só lembrando de sua existência dali algum tempo quando novamente precisavam dos votos dos eleitores. Alheios a tudo e a todos, lá estavam eles, levavam a vida despreocupados como se o resto do mundo não existisse, pobres miseráveis, nenhum esforço faziam para mudar de vida mas, embora acomodados naquela mesmice, viviam o casal um caso de amor inigualável.
Ele era um rapaz branco, tez castigada pelos maus cuidados que tinha com o corpo, ninguém sabia de sua origem, nem ele próprio talvez soubesse, simplesmente apareceu ali naquele povoado como que vindo do nada, por isso o chamavam de Vento. Ela era Tina, uma negra esquia, possuidora dos dotes de uma mulher em formação, vadia talvez até pela origem humilde e simplória dos pais, igualmente a Vento, também não sabia se cuidar e isso acabava camuflando a beleza incutida em sua pele escura, mas não escondia de ninguém o seu caso com Vento.
O ponto de encontro e o leito de luxuria do casal não passavam de um amontoado de capim sob a proteção do teto de um bueiro por onde trafegavam o gado de uma pastagem, acima do estradão, para outra, abaixo do estradão e rumo ao ribeirão, ali acontecia quase todos os dia, o encontro amoroso de Vento e Tina.
Dias desses, caminhando por aquelas bandas, avistei a distancia os dois se encaminharem para lá, meu trajeto passava obrigatoriamente por sobre aquele bueiro, foi quando escutei alguns gemidos, sabedor que era da história, mais por malvadeza do que por curiosidade perguntei:
__ Quem está ai?
Lá de baixo veio uma resposta vaga
__ É gente!
Outra pergunta.
__ O que esta fazendo?
Uma pequena pausa e a mesma resposta vaga:
__ Gente ué!
Foi então que caí na real, sabia perfeitamente que quem estava ali era Vento e Tina, me senti a mais cretina das criaturas neste momento e segui o meu caminho, afinal de conta eles eram livres e desimpedidos e sobretudo gente tanto quanto nós portanto tinham o seu direito de fazer gente, e eu não tinha o de interferir neste momento tão sublime do casal.