A PRECE OU A MALDIÇÃO DE UM CACHORRO

Ao chegarmos em uma casa sertaneja, como que perdida na imensidão deste pais de dimensões continentais chamado Brasil, o primeiro a dar o sinal de intruso chegando é o cachorro e não é qualquer cachorrinho não, lá não se fala de Pit Bull, Rottwiller, Pastor Alemão ou o dócil São Bernardo e muito menos dos Poodle, Pequenez e Chihuahua, nada dessas raças civilizadas, em casa do caboclo que se preze, cachorro também é caboclo, o Maximo traz o apelido de perdigueiro ou buldogue, isso sem leva em conta que com certeza esses, trazem em suas veias os sangue de um legitimo VL, traduzindo Vira Lata.

Neste caso porem, não importa a raça, a verdade é que lá estão eles, sempre vigilantes e prontos para defender seus donos de possíveis inimigos mas atacar, isso é coisa que raramente acontece, eles apenas denunciam a chegada de alguém e o fazem com maestria, latindo até que os donos apareçam para ralhar duramente com os pobrezinhos que estão fazendo nada mais que a sua obrigação.

Na realidade, os seus proprietários sabem muito bem disso e são eternamente gratos, tanto é que estes animaizinhos são carinhosamente tidos como seus melhores amigos a ponto de dizerem lá na roça que “mais vale um cachorro amigo do que um amigo cachorro”, não no sentido de denegrir a imagem do cão, mas de inferiorizar a condição daquela pessoa que não é cumpridor de sua palavra, pois com o coitado é bem assim, o dono ralha com ele, as vezes dando ate umas guascadas porem é só o dono chamar, lá vem ele todo alegre festejando e balançando o rabo, sinal de alegria e satisfação.

Verdade é que todo sertanejo tem certa admiração ou respeito pelo seu cão, seja ele criado na propriedade ou já adquirido depois de adulto, alias existe até algumas simpatias que fazem quando o animal vem para casa depois de grande, para que não retornem ao antigo dono. Meu avo, um sertanejo autentico, dizia que era preciso cortar os pelos da ponta do rabo e colocar debaixo de um pilão ou dar comida chinelo do novo dono, ai o animal não retornava a casa antiga de jeito nenhum mesmo que esta não ficasse tão distante e dizia ainda que esta segunda simpatia, o animal pegava uma querência tão grande pelo novo dono que não abandonava em momento algum, por todo lugar em que o patrão fosse, lá estava o seu animal e lhes acompanhar.

Dizia uma sertaneja igualmente rude, mas religiosa e sábia mulher sempre, que devemos tratar com carinho e zelar bem de nossos animais, sobretudo os cães pois quando estamos comendo, se tiver um por perto a nos observar, cena comum na roça, a cada bocado de alimento que colocamos em nossa boca, o animal eleva uma prece a Deus bendizendo o alimento:

___ Este é de Deus.

Acontece que se comermos até no ultimo bocado, quando com certeza já estamos saciado, se não dermos um ossinho sequer ao pobrezinho, sinal de avareza e egoísmo de nossa parte, como se estivesse rogando uma maldição, ele mentalmente encerra:

___ Agora, este é do diabo.

Pois que vivam estes dóceis animais em plena harmonia com seus proprietário pois também são criaturas de Deus.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 23/11/2011
Reeditado em 23/11/2011
Código do texto: T3352581
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