O CABOCLINHO E O ANDOR DE SÃO BENEDITO

Caboclinho criado na roça, descendente de escravos, vivia sua vidinha humilde numa casinha barrote e coberta de sapé na pequena propriedade que recebeu de herança de seus pais. Tinha uma vida modesta, a pequena propriedade não era suficiente para dar o sustento a família, mas trabalhador que era, sempre fazia bicos para os sitiantes da redondeza, trabalhando por dia ou de empreitada não deixava a peteca cair, embora levando a vida na simplicidade, comida não faltava a mesa e só tinha que agradecer a Deus por tamanha dádiva.

Homem religioso que era, devoto de são Benedito o Santo Negro e protetor dos escravos e das pessoas de cor visto que também foi escravo assim, todos os anos por época da festa de libertação dos escravatura no Brasil, ele embora nunca tenha sido escravo, mas recordando dos causo que seus pais lhes contava e sabendo sobretudo que o avo viveu como escravo e foi libertado desta triste sina por uma tal princesa Isabel, no dia treze de maio não trabalhava de jeito nenhum e sempre procurava ir ao povoado onde acontecia a festa tão marcante na sua vida e na vida de muitos irmão de cor e tinha só a agradecer o bondoso Deus pela vida que levava.

Neste dia em especial, foi a celebração da santa missa e no final, a procissão com o andor de Nossa Senhora e São Benedito e ele não podia deixar de lado a oportunidade de carregar o andor daquele que também viveu a escravidão no passado e assim que procissão saiu pela ruas, ele se aproximou e pegou no cabo dianteiro do andor, seguia fervorosamente carregando a imagem do santos as costas.

A procissão seguia pelas ruas da cidade e ele caprichosamente não deixava o cabo do andor por nada neste mundo porem eis que num determinado ponto da rua, depara a sua frente com uma carteira recheada de nota de dois cruzeiros amarelinhas como era daquela época, um tesouro mas não podia largar o cabo do andor e também não podia deixar para trás aquela oportunidade e num instinto, abaixou para pegar a carteira, no que o santo mal amarrado que estava, com a inclinação do andor, acabou tombando em suas costas, ele olhado para traz e vendo aquela visagem atrás de si, num instinto de defesa, simplesmente exclamou:

__ Calma ai negão, que eu vi primeiro.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 10/11/2011
Reeditado em 10/11/2011
Código do texto: T3327301
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