OS COMPADRES LOROTEIROS
Os dois compadres loroteiros se encontraram lá no botequim e conversa vai, cachaça vem, Cachaça vem conversa vai, depois de colocarem as fofocas familiares em dia, desde a saúde dos filhos a rebeldia das meninas e os azedumes da comadres, já um pouquinho altos pela danada da branquinha, ferraram num papo a contar suas aventuras, um era da cidade, proprietário de um loja de fazendas, homem letrado e comerciante nato e conhecido fanfarrão da cidade, amante de uma boa pescaria, o outro era caboclo criado no mato, tinha o seu linguajar típico caipira e a bem da verdade não tinha nenhum esporte preferido, não gostava de pesca, não era chagado as orgias na afamada casa amarela, pequeno prostíbulo do lugarejo, mas gostava de bebericar umas e outras no boteco e não deixava ninguém mangar dele, sempre tinha um bom causo pra rebater.
O compadre pescador logo começou contar vantagem de uma pescaria que vez lá para bandas de um tal Paranasão, ( Rio Paraná) eita lugar de peixe bom, dizia o compadre contando suas vantagens e como sempre os grande acabavam fugindo, mas neste dia em especial o causo foi diferente, pegou um peixe tão grande mas tão grande que foi preciso pedir socorro ao tratorista de uma fazenda vizinha do rancho que por sorte estava fazendo uns serviçinhos na barranca do rio, e se não fosse isso, talvez nem dez homens conseguiria tirar o erado das águas do grande rio. Pra acaba de completa a história, pensaram ter matado o danado e colocaram dentro de uma geladeira grande que tinha lá no rancho, de madrugada acordaram com um barulho terrível vindo de dentro da geladeira, meios sonolentos foram ver o que era, o danado do peixe que pensavam ter matado, estava vivinho da silva e já tinha comido 5 kilo de lingüiça, uns dez quilo de bife e mais quatro pintado que haviam pescado naquele dia e que também estava dentro da geladeirona, em três homem pegaram o dando que pererecava dentro da geladeira, levaram para fora para matar a paulada, mas como o rancho ficava na beirinha do rio, o danado num solavanco cai dentro d’água e foi-se embora rio afora...
Compadre assuntou bem, mediu o outro de cabo a rabo, os demais sertanejos que ouviram a história ficaram de queixo caído e ele particularmente achou um certo exagero mas se compadre falou, tava falado, e não seria ele que iria por duvidas nas palavras do compadre então, pediu outra rodada de cachaça, mandou pro peito e ai bateu aquele silencio, foi quando compadre o pescador para evitar que acontecesse algum questionamento, puxou conversa
__ E o compadre! O que veio fazer na cidade?
E após mandar mais uma dose da malvada goela abaixo, respondeu:
__ Nadimais, só vim memo pra vende déis capado,
__ O compadre virou criador de suínos agora?
__ Chiii! Lá vem cumpadi coesas palavra isquisita, mais num tô criano nada não cumpadi, pois procê vê as coisa com são, ano passado cum a graça de Deus, cumprei um sitiozinho la na beradinha do Panema.
Panema era o nome carinhoso que os moradores da região denominavam rio Paranapanema, divisor de águas que separa os estado de São Paulo e Paraná e que, antes das barragens para construção de Hidroelétricas, era um rio piscoso, com águas correntes e tinha entre uma margem e outra, uma largura de aproximadamente uns 90 a 100 metros, hoje a realidade é bem outra, mas como o compadre não tinha nada a ver com o hoje, prosseguiu
__ Imagine cumpadi que a terra é tão boa, mas tão boa, que plantei uns pé de mandioca pru gasto di casa, sabe como é né, casa de pobre é mandioca no armoço, mandioca nu café e mandioca na janta, assim fumo comeno mandioca, tudo dia era mandioca no armoço, mandioca nu café, mandioca na janta inté que chegou a época das brota, a mandioca ficô aguada e incruada, nem os animar comia, mais nissu tamem só sobrô um pé de mandioca que fico lá isquecido no roçado perdicasa e cumo a terra era muito boa, foi cresceno, cresceno, cresceno e se tornô numa arvi onde os passarim vieram fazê ninho, daí tamem fiquei com dó de arranca o pé de mandioca e dexei lá, mas como era entre a casa e o rio, resorvi cerca o roçado de pau a piqui e fazê um mangueirão pra cria uns porquinho, adipois de tudo feito, sortei lá uma marroinha prenha que tinha cumprado dum vizinho, ahhh cumpadi, mais num tive sorti, num é que notro dia a danada sumiu e cumo lá tinha muito jacaré, pensei, argum jacaré saiu de dentro do rio e comeu a pobrizinha, mas num incasquetei cuisso não, pois num valia a pena gasta dinhero pra cumpra leitoa pros jacaré cume, né memo cumpadi? Intão dexei pra lá esta idéia de cria porco e nisso passo um ano ou mais, dia desse fui beirá o pé de mandioca, vi um buraco qui paricia um gruita, achei istranhu aquilo ali, nunca tinha visto esti buraco antis, aproximei e botei atenção, iscuitei uns baruiô istranhu qui vinha di dentru du buraco, ahhh cumpadi, num pensei duas veiz, curri im casa, pequei minha cartuchera di istimação e um lampião di quirosene e adentrei naquele buraco iscuro i fui andano ajudado pela luz du lampião i pra incurta a historia, andei uns 70 metros ou mais dentru daquele tunil iscuro ...
O compadre pescador, assuntando o outro compadre e querendo encurta o causo e encerra logo aquela prosa, perguntou
__ Não vai dize que encontrou algum tesouro dentro da gruta?
Tomando mais uma gole da branquinha, o compadre sorriu amarelo e continuou:
__ Nadivê naum cumpadi, num era gruita naum, era a raiz do pé di mandioca que e a danadinha da leitoinha prenha começo comendo na barranca do rio e foi entrando por dentrudela, lá deu cria déiz leitõezinhos que continuaram comendo a mandioca, foram cresceno e engordano e oia cumpadi, si não encontro os danados, hora dessas já tinha saído dotro lado rio. É us déis capadinho qui vim vendê, cumpadi.
Sem delongas, gritou o vendeiro solicitando mais uma rodada de cachaça pra todos e justificou
__ Tomá a saidera qui ja tá na hora di í pra casa, istu aqui já deu o qui tinha de dá hoje, né memo cumpadi?