Barbeiro Azarado
A partir de hoje, sempre que possível, pretendo escrever uma série de causos sobre “Caboclo Ferreira” figura folclórica, antigo morador de Prata - PB, cidadezinha do Cariri da Paraíba, bem próxima a cidade de Monteiro.
Contam os antigos moradores da cidade que “Caboclo Ferreira” era descendente de índios, vivia sozinho e raramente ia a cidade, bruto que só “toco de roçado”. Vivia de “biscaites” executando pequenos serviços nas fazendas da região, mas, o seu trabalho preferido era amansar burro brabo e bois para cultivadores.
Certa vez, Caboclo Ferreira” foi até a cidade, era dia de feira e ele aproveitou para ir ao barbeiro fazer a barba. Na semana anterior o barbeiro havia aumentado o preço dos seus serviços, mas, acontece que ”Caboclo Ferreira” não fora informado da tal majoração. Terminado o serviço o barbeiro cobra o novo preço. Fereira pego de surpresa nega-se a pagar, entrando em atrito com o barbeiro chamando-o de ladrão. Os ânimos vão esquentando, “Caboclo Ferreira” com um “Cipó de boi” na mão, acaba aplicando uma tremenda surra no barbeiro, além de ameaça-lo de morte. A surra foi tão forte e bem dada, que o barbeiro teve de ser levado as pressas pára o hospital de Monteiro. Dias após, ao receber alta o homem some da cidade, nunca mais ninguém teve noticias dele.
Muito tempo depois “Caboclo Ferreira” havia alcançado uma graça. Um boi que um dos seus clientes havia deixado para amansar havia sido picado por uma cascavel. Caso o boi viesse a morrer, Ferreira estaria em maus lençóis, ele não tinha mesmo como paga-lo, então, apelou para o seu santo de devoção São Francisco do Canidé.
O boi foi salvo, e como promessa ao santo, prometeu ir a pé de Prata até a cidade de Canidé – CE. Cumprindo o prometido, “Caboclo Ferreira” de matulão nas costas mete o pé na estrada, e ao cabo de 15 dias de andanças acaba chegando ao Canidé. Seu estado era deplorável, queimado pelo sol, barba e cabelo por fazer, banho por tomar. Ferreira fica numa pensão na entrada da rua, toma um banho e troca de roupa. Agora iria a procura de um barbeiro.
Para “Caboclo Ferreira” promessa era coisa séria, ele tinha de se apresentar frente a imagem de São Francisco do Canidé, descentemente vestido. Vai até a feira onde procura um “salão pela porco”. Senta-se na cadeira e não se deu ao luxo sequer de olhar para a cara dó barbeiro. O barbeiro era o mesmo em quem há tempos atrás “Caboclo Ferreira” havia aplicado uma surra. O barbeiro ao reconhecer o cliente. logo que o mesmo senta-se à sua cadeira, da inicio aos trabalhos, primeiro cortou o cabelo, depois inicia a barba. Quando o rosto de “Caboclo Ferreira” estava cheio de espuma, o barbeiro atravessa a navalha no pescoço do cliente, olhando bem para dentro dos seus olhos, com uma voz grave e cavernosa lhe pergunta:
- Sabe quem sou eu “Caboclo Ferreira ?
- SEI NÃO !
- Eu sou aquele barbeiro que há tempos atrás você deu uma surra, lá
na cidade de Prata, na Paraíba ! Agora ta alembrado ? Falou o
barbeiro apertando ainda mais a navalha de encontro ao pescoço
do cliente.
- AGORA TÓ ! Responde “Caboclo Ferreira” sem sequer piscar os
olhos.
- Agora seu “coisa” ruim, preste bem atenção, faça o seu selviço bem
direitinho, senão apanha de novo ! ! !