CABOCLINHO GANANCIOSO
Eram bons tempos aqueles, os dois caboclinhos moravam num bairro retirado do povoado mas eram conhecido em toda a região por dois motivos básicos, primeiro porque eram os únicos tocadores de sanfona em toda a região e os promotores dos bailes procuravam um ou o outro para animarem os fandangos noite adentro, o outro motivo da popularidade porque eram preguiçosos de mão cheia, passavam o tempo todo ensaiando sanfona mas não gostavam de forma alguma de pegar no pesado, alias trabalho não fazia o feitio dos dois sanfoneiros.
Alem da parecença entre os dois havia porem diferenças berrantes, um deles era um belo jovem que tirava suspiros das donzelas dos lugares onde passava e sempre estava a procura de uma moça rica para casar e se fazer na vida de vez, visto ser um rapaz ganancioso e não se contentava que a vidinha de pobre que levava. Já o outro, apesar de ser tambem jovem, não tinha uma bela aparência e ainda por cima, uma enorme verruga na ponta do nariz deformava o rosto do rapaz que independente disto, levava uma vida feliz, o que ganhava com a sanfona era o suficiente para tocar adiante sua vidinha modesta.
Entre as semelhanças e diferenças, os dois colegas de profissão tinham uma amizade solida e pela proximidade das residências, constantemente estavam se visitando para ensaios e repertórios novos, e num desse encontros eis que o rapaz que tinha a verruga no nariz apareceu com um rosto novo, já não ostentava aquele horrendo incomodo, parece até que o rapaz tinha remoçado com uma falada cirurgia plástica e o mocinho novo quis logo saber como tudo tinha acontecido, quando foi feita e cirurgia etc. e tal...
O outro por sua vez informou que tudo acontecera por acaso, ele vinha de um baile que fora animar, mas pelo tempo chuvosos,acabou não acontecendo e de retorno para casa por volta da meia noite, ao passar margeando o cemitério, lá estava acontecendo uma animada festança das almas penadas que vendo ele com a sanfona, o chamaram para tocar, como não era um homem medrosos, adentrou , subiu num tumulo e puxou o fole ate quase o amanhecer, mas foi ao se despedir teve uma surpresa, uma das almas agradeceu a animação e em sinal de gratidão disse ao caboclinho que fizesse um pedido, alguma coisa que lhe incomodasse e que deseja ficar livre para sempre, que o seu desejo seria realizado, foi então que pensou na verruga na ponta do nariz, pediu para ficar livre dela e num repete dita cuja verruga se foi.
O outro que ouvia atentamente o causo exclamou:
___ Mas como você é burro!
E justificou ao outro artista que diante de uma oportunidade impar de ficar milionário, ter tudo do bom e do melhor, escolher logo pedido para tirar a verruga do nariz, se fosse ele não deixaria passar esta oportunidade, pediria logo muito dinheiro, coisa que o amigo parece não querer.
O outro que ouvia atentamente este ataque de histerismo do colega apenas ponderou:
___ Que não seja por isso, toda sexta feira as almas fazem festa no cemitério, pois vá lá, toque um noite para elas como eu fiz e, generosas como são, vão lhe fazer a mesma proposta, mas não esqueça que é apenas um único pedido.
Informado do lugar da festança, na próxima semana metido num belo terno de linho preto e com a sanfona nas costas, para o cemitério rumou o mocinho e encontrou a festança exatamente conforme o colega havia falado e igualmente foi convidado para animar o baile naquela noite, o que fez com maestria.
Já quando os sinais da aurora ameaçava despontar no horizonte, o baile foi dado por encerrado e nesse momento, em sinal de agradecimento, uma das almas aproximando do sanfoneiro fez a proposta de aquele teria o direito de fazer um pedido, apenas um único pedido naquele fim de noite, aquilo que mais o incomodava, e que em sinal de gratidão pelo relevante serviço prestado naquela noite, seria atendido. Convicto do que queria, mas como bom poeta, não podia deixar de transparecer o inconformismo com o pedido do colega e sem pestanejar filosofou:
___ Para ser feliz, quero apenas aquilo que meu amigo não quis.
Imediatamente uma enorme verruga apareceu bem na ponta do nariz do pobre jovem.