LEMBRANÇAS DOS TEMPOS DA ESCOLA

Corriam os anos do final da década de sessenta, os tempos eram bem diferentes dos de hoje, a zona rural era povoada tanto é que a população rural era maior do que a população da cidade daquele pequeno município no interior dos estado de São Paulo.

Naquele tempo para estudar tínhamos que andar por mais de seis quilômetros até chegar a cidade, haja visto que a escolinha do bairro não tinha o quarto ano e meu pai, para não mandar um filho pra cidade e os demais para a escolinha, decidiu que todos deveriam estudar na cidade, um misto de luxo e alegria ao mesmo tempo, pois não era qualquer um que tinha o privilégio de estudar na cidade, e tudo isso aconteceu porque um compadre de meu pai, influente político na cidade, facilitou as coisas, a pensar que nesta época já existia as maracutaias políticas e a politicagem, mas meu pai que se dizia um homem sério que não se deixava comprar por favores, e tanto era verdade que mais tarde acabou se desentendendo com este compadre apesar de que no momento usou desta amizade a seu favor.

Apesar de ter usufruído do favor naquelas circunstancias, o pai era um homem muito enérgico, homem rude do campo, trazia em suas veias o sangue europeu descendente de alemão, era muito econômico, fato marcante no convívio tanto familiar quanto na sociedade, fama que se espalhou por toda a região.

Naquela época não existiam os recursos que existem hoje, a nossa bolsa era uma mucutá feita de pano de saco de açúcar, não tínhamos calçados, sempre íamos a escola de pés no chão, e em períodos de longa estiagem, chegávamos todo sujo na escola, pois alem dos pés no chão, ainda íamos brincando caminho afora, arrastando os pés fazendo levantar poeira estrada afora, principalmente se saíssemos a frente de duas meninas que também estudavam na cidade, porem sempre se apresentavam bem arrumadas e cheirosas, nossa alegria era vê-las bravas com a poeira.

Outro fato marcante era a merenda escolar, só podiam usufruir desta regalia os alunos que pagassem a “caixa da escola”, como isso não fazia parte dos gastos do pai, o nosso lanche era um pedaço de pão feito em casa, minha mãe molhava o pão na água, jogava um pouco de açúcar e tínhamos que nos contentar com isso, porem por vergonha, jogávamos a merenda num matagal à beira do caminho quase chegando na cidade, e á fiava escondido nosso preciosos lanche, pedaços de pão numa moita de capim, mas quando terminava as aulas, saiamos da escola mortos de fomes, mais que depressa, corríamos ao esconderijo, pegávamos o nosso pedaço de pão que sempre estava atacado pela formigas doceiras, com cuidado limpávamos e no caminho de volta para casa íamos comendo o nosso lanche, pois da escola ate o nosso sitio onde dava aproximadamente uma hora de caminhada debaixo do sol escaldante do meio dia.

Tempos bons que se foram, hoje os estudantes tem toda regalia, transporte escolar pegando na porta de casa e devolvendo, mesmo assim tanta criança abandona os estudos. Nos fomos até onde podíamos, terminamos o ensino colegial, hoje ensino médio e apesar destas dificuldades toda, podemos dizer que somos gentes, temos dignidade e não podemos reclamar de nossos pais que hoje já partiram desta vida, afinal de contas, esta era a única maneira que eles tinham de educar os filhos e ninguém morreu por causa disso, ao contrário, somos pessoas, finalizou o causo o sábio homem.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 28/09/2011
Código do texto: T3246732
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