Blackberry Nos Trilhos do Metrô
Patrícia, sempre quis um celular ultima moda. Morar na favela, não a impedia de ter um tênis de marca, as unhas em estilo francesinha, um cabelo chapado, uma roupinha estilosinha. Era conhecida como a paquita da Cohab, as outras moças, ralés -Pobres, funkeiras, mulher de malandro e afins, não gostavam dela.
Ela não se importava. Com seu salário de auxiliar de serviços gerais tinha conquistado muitas coisas e seu sonho era se casar com um moço de nível.
Finalmente, comprou seu blackberry em 1.000x no carnê e ia para casa toda feliz. Endividou-se para tê-lo, mas era seu. Voltando do trabalho, na plataforma de metrô, lotado, aguardava ansiosa para chegar em casa e mostrar para todo mundo, só para fazer inveja e pagar de boa pinta.
Odiava aquela muvuca. Gente empurrando, gente fedendo, várias cheiros diferentes, gente pobre, gente ralé -pensava. Recebeu um empurrão e o seu celular caiu nos trilhos. Ela gritou parecendo que foi golpeada com uma faca e atirou-se na via para apanhá-lo. As pessoas chocadas com a cena, gritaram para ela sair dali, mas ela não saiu, iria achar seu blackberry. Procurava-o quando uma busina soou e uma luz forte bateu em seus olhos -Não era do seu celular, era do metrô. Morreu esmagada sob a pesada composição. O que sobrou foi uma pasta estendida na via, de restos humanos -Geléia de Patrícia.
Seu Blackberry tocava do outro lado, intacto, com SMS da operadora que tinha concedido um pacote de desconto para falar mais por muito menos.