Senhor Certinho
O Senhor Eduardo Paiva, era conhecido por todos como o "senhor certinho". Bacharelado em Direito com louvor, passou na prova da OAB de primeira, logo depois prestou o concurso para promotor e assumiu a magistratura. Casado com Letícia, uma mulher lindíssima; Loura, 1.70, 63 quilos e um belo corpo. Desse relacionamento tinha dois filhos; Lucas e Mateus e moravam em uma pomposa casa em Pinheiros.
Seus filhos estudavam em uma escola particular, uma das mais prestigiadas do estado. E sua mulher, o "amava" pois ele a presenteou com um cartão de crédito sem limites e a cobria de jóias, carinhos e beijos. Não tinha nada que Eduardo não desse a ela.
Letícia era uma dondoca; não fazia nada, nem cuidava dos filhos, quem cuidava deles era a babá. Sua vida resumia-se em shoppings, academia, passeios futéis com pessoas mesquinhas e interesseiras, falando mal da vida dos outros e reclamando da classe menos favorecida, como qualquer madame da elite paulista.
Letícia era uma ex modelo, aspirante social, que viu em Eduardo a chance de "crescer na vida". Depois de muitos encontros percebeu que o engomadinho estava de quatro por ela, não perdeu tempo -levou-o para a cama, fez barba, cabelo e bigode e pronto! -O babaca gamou. Eduardo não tinha muitas experiências sexuais e logo pediu a loura em casamento.
Seus pais foram contra, mas como estava apaixonado, casou-se. O casamento foi caríssimo com sofisticação e requinte, a lua de mel foi no Caribe e logo vieram os filhos, Lucas e Mateus, um ano de diferença.
No começo Eduardo estava tão feliz, ele que era tímido e sua vida social restrita. Depois de sete anos, percebeu como Letícia havia mudado. Não o beijava, sempre que queria fazer sexo, era a mesma putaria -Dor de cabeça, cansaço, indisposição. Eduardo, magoado e triste cansou de pedir e como a amava decidiu que não forçaria mais nada. Acordava cedo e com o tempo passou a madrugar para trabalhar, tomava café na padaria e ia para o fórum. Quem o servia, era sempre uma magrela simpática que sempre sorria para ele.
Chegava em casa e sua mulher produzida - Linda, cheirosa saindo com alguém. Ele sabia, sim sabia, era corno. Os filhos não o respeitavam por ele ser frouxo e bundão. Só faltavam cagar na boca dele. Pequenas crianças e grandes tiranos. Seu único prazer eram seus processos que se acumulavam em sua mesa.
Passou a maquinar de ter uma conversa com a traidora, mas nunca teve coragem. Sentia-se humilhado e ferido demais para assumir sua cornice. Ligou para um camarada que estudou com ele, o vadio e irresponsável Zé da lua, que tinha se formado colando, subornando os professores, prestou várias vezes o exame da ordem sem sucesso, até que desistiu e virou artista. Artista, hippie e feliz, assim se definia.
Pegou o telefone celular, tremeu, mas marcaram de ir em um boteco xexelento do centro. Eduardo chegou e Zé da Lua, apelido do seu colego José Barbosa estava a sua espera. Beberam todas, Eduardo ficou bêbado, riu, chorou, brigou e desabafou com o colega -Sou infeliz! O colega tentava consolar, mas nada adiantava.
Conversa vai e vem, econtro ali e acóla, Eduardo e o vadio tornaram-se grandes amigos e companheiros de farra. Nessas idas e vidas, Eduardo, um promotor respeitado, percebeu que nunca tinha curtido a vida. Foi em baladas, botecos, puteiros, viagens malucas, se envolveu ali e aqui com algumas peguetes e estava mais feliz.
Letícia passou a se incomodar com o novo jeito do marido. Sabia que tinha algo novo. Ele não tinha mais aquela postura submissa. Andava mais arrumado e charmoso. Teve um dia que ela o espiou tomar banho e percebeu que seu marido fantasma estava lindão. Não perdeu tempo, tirou a roupa e foi para o chuveiro se assanhar para ele. Não deu outra, o senhor ex certinho, a dispensou -Dispensou uma loura fantástica e muito gostosa, que estava ali que nem uma cadela no cio. Ele a empurrou, pegou a toalha, colocou sua cueca e vestiu sua roupa e saiu. Ela, humilhada com tanto desprezo, fez um escândalo, o ofendeu, o ameaçou e pediu o divórcio alegando que ele era corno e provavelmente gay, ele nem ligou e saiu.
No outro dia, o advogado de Eduardo foi até a casa deles com os papéis do divórcio. Ela cheia de sí fez ñ exigências, dos quais Eduardo atendeu a todas, só para livrar-se dela. Os filhos ficaram com ele e mudou-se para um apartamento simples em Santana.
Letícia ficou com todos os bens que queria. Sua vida era uma festa - compras, baladas, academia, prazer com o amante fortão e interesseiro, nada de filhos e de marido. Eduardo não ligava para ela e os filhos também, e ela nem queria saber deles. Porém, como tudo muda, ela caiu em sí e percebeu que sentia falta do seu ex marido e seus filhos. E Eduardo era outro e seus filhos com ele, estavam educados e gentis. Iria conquistá-lo de novo.
Ligou para a casa dele, ele atendeu. Ela iria até o apê. Quando chegou um espanto -Eduardo, noivo, de uma moça magrela, cabelo escorrido, óculos, mas muito simpática, com os filhos dos dois reunidos. Foi recebida bem, mas entristeceu-se, havia perdido.
Em uma conversa particular, ela pediu para Eduardo voltar, mas ele recusou e disse a ela, que agora ele sabe o que é ser feliz, antes ele não sabia. Ela virou ás costas e chorou. Na verdade amava Eduardo e os filhos, sua cegueira a impediu de ver o tesouro que tinha. Foi embora para a sua vida vazia, que afinal, sempre teve, só que dessa vez, ciente disso.