DO MESTRE NA VOZ DO MESTRE

Éramos ainda criança quando certa tarde, sentados ao pé de uma frondosa arvore no terreiro de casa, vovo após acender o seu cigarro de palha, raspou a garganta como de costume e nos contou que quando Deus se fez carne e habitou entre nós e se chamava Jesus, certo dia estava caminhando entre os vales e montanhas da Galiléia, quando passou por uma mulher que, apesar dos afazeres domésticos, estava brincando com sua filha num balanço de corda amarrado a um alto e grosso galho de oliveira. A mulher se divertia muito, ria despreocupadamente junto com a filha, Jesus como sempre acompanhado de sés fiéis seguidores, parou e ficou a observar aquele bela cena e depois de algum tempo, com um sorriso nos lábios, abençoou aquela mulher e sua filha, seguindo a viagem e deixando para trás a feliz mulher que nem sequer notou a presença do mestre.

Na caminhada, percorrendo vales e montanhas e já no final do dia uma outra cena chamou a atenção do mestre. Lá estava uma mulher ajoelhada aos pés de uma cruz e parece como que prevendo o grande significado daquele instrumento de martírio para os cristãos, a mulher acendeu velas e rezava fervorosamente, igualmente Jesus parou e por alguns instantes ficou a observar aquela triste cena, depois, num gesto de desaprovação, amaldiçoou a pobre mulher e seguiu viagem.

A noite quando se preparavam para dormir, inconformado com o que presenciou durante o dia, um dos discípulos questionou o mestre:

___ Senhor, tu que sabes o certo e o errado, tantas coisas bonitas nos tem ensinado e és um homem justo sobre a face da terra, só não entendi uma coisa: porque abençoastes a mulher que brincava com aquela criança debaixo da oliveira e amaldiçoais a que rezava fervorosamente aos pés da cruz?

___ A mulher que brincava com a filha, pode até ter deixado os seus afazeres domestico mas estava com o coração sem maldade alguma, apenas procurando dar o melhor de si a sua filha, por isto a tornou grande no reino dos céus, já a outra que parecia rezar com tamanho fervor estava com o coração impregnado de ódio e vingança, rezava apenas pedindo a derrota do seu próximo.

Os discípulos o ouviam atentamente quando ele encerrou:

___ A vingança é um sentimento mesquinho e o ódio é como um veneno muito poderoso que a pessoa bebe na esperança de que o seu desafeto morra.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 21/09/2011
Código do texto: T3233331
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.