O HOMEM E SEU PILÃO

Lá pra bandas do matão,

que esta historia se passou.

Parece ser uma lorota,

mas não mente quem contou

e alem de sua palavra,

tem mais gente que presenciou

Diz que tinha um caboclinho,

que todo o povo bem conhecia.

Era um moço magro e franzino,

com um fiapo de gente parecia

Havia casado recentemente,

e a esposa já esperava família

Apesar da aparente fragilidade,

era um homem muito trabalhador.

Trabalhava de sol a sol,

ensopando a camisa de suor.

Não deixava faltar nada em casa,

cuidava do lar com muito amor

Acontece que aquele ano,

o verão veio com mais vigor.

De dia era um sol em brasa,

e até de noite fazia muito calor.

Lembrando que naquele tempo,

Não se conhecia o tal ventilador.

Depois de um dia exaustivo,

no cabo da enxada a capinar.

Foi para casa o caboclinho,

para merecidamente repousar.

Mais o calor era tanto,

que ficou na cama a rolar.

A esposa também preocupada,

não dormiu um pouquinho sequer.

O calor que castigava o marido,

castigava também a mulher.

Já era altas horas da noite,

quando tudo veio suceder.

O rapaz era um sonâmbulo,

mas ninguém havia percebido.

A mulher levou tamanho susto,

Quando presenciou o acontecido.

Como uma alma penada,

dormindo se alevantou o marido.

Ela bem que tentou conter,

mas lembrou do dizer de seus pais:

Quem levanta assim dormindo,

não se deve acordar jamais,

pode ser tão grande o choque

que a pessoa não acorda mais.

Apavorada, saiu de casa correndo,

e foi chamar o seu padrinho.

Um tio que morava ali perto

e era seu mais próximo vizinho.

Que veio imediatamente,

pra não deixar o homem sozinho.

Veio também a madrinha,

todos abandonaram o leito.

E a cada passo que o rapaz dava,

foram observando o seu jeito.

Tomando os devidos cuidados

pra fazer tudo direito.

No céu a lua passeava,

era fase quarto minguante.

A noite estava clara,

o que facilitava bastante.

Não distanciaram do homem

sequer um só instante.

E o rapaz desorientado,

andava a esmo pelo terreiro.

Foi à horta, foi ao pomar,

passou por debaixo do poleiro,

derrepente, voltou pra casa,

caminhando bem ligeiro.

Na entrada da residência,

bem a porta estava um pilão.

O danado era feito pau de óleo,

ninguém podia tirá-lo do chão.

Mas a sua frente o rapaz parou,

rugiu como se fosse um leão.

Jogou o pilão nas costas

e desceu rumo ao ribeirão,

passou pela pinguela estreita,

subiu de novo o espigão,

andou quase uma légua,

depois jogou a carga no chão.

Olhou pro céu, agradeceu a Deus

com todo amor e carinho.

Depois da breve oração,

retornou pelo mesmo caminho,

seguido a uma distancia segura,

pelas mulheres e o padrinho.

Chegando em casa se recolheu,

Acompanhado da fiel companheira.

Os vizinhos também foram pra casa,

tinham tomado uma canseira,

acompanhando aquele casal,

quase que a madrugada inteira.

No outro dia bem cedinho,

foram lhe contar o acontecido.

Que incrédulo foi logo dizendo,

que tinha muito bem dormido,

que a noite foi uma benção

E o seu descanso merecido.

Por mais que insistissem,

ele não acreditava nesta história.

Dizia que estava cansado,

Mas teve uma noite in gloria.

Ter dormido o sono dos anjos,

foi pra ele uma grande vitória.

Sem argumentos, portanto,

tomaram outra decisão.

Já que contar a historia,

parecia ser tudo em vão,

levaram o rapaz ao local

onde havia deixado o pilão.

Sendo o padrinho homem sério

e devido a tanta insistência.

Narrando detalhes dos fatos,

com tamanha eficiência

O desconfiado rapaz aos pouco,

Foi redobrando a consciência

Foi com a chegada dos pais

que tudo ficou revelado

Não foi a primeira vez,

que este fato havia dado,

o rapaz era sonâmbulo,

andava dormindo acordado.

Depois de tudo esclarecido,

O rapaz ficou mais ressabiado,

pois onde tamanha força,

teria por ventura ele achado

e na procura desta resposta,

o causo ficou mais engraçado.

Trazer o pilão pra casa,

o coitado ate tentou,

fez uma força danada,

ao seu redor rodopiou,

levantou poeira do chão,

mas o pilão nem se arredou

Quando o dia estava findando,

com a carroça, foi ao roçado.

Foi preciso três homens fortes

para ajudar o pobre coitado,

colocar o pilão na carroça

e trazer de volta o danado.

Tem gente que não acredita

que tudo isso aconteceu.

Não julgo ninguém por isso,

se não acreditam, nem eu.

Mas contador deste causo,

jurou até por deus do Céu.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 31/08/2011
Reeditado em 31/08/2011
Código do texto: T3193288
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