O FAZENDEIRO, O CAIPIRA E O CIGARRO DE PALHA.

O FAZENDEIRO, O CAIPIRA E O CIGARRO DE PALHA.

O fazendeiro acordava de madrugada, junto com o galo. Ele ia até o paiol e recolhia os ratos mortos. Espalhava BHC para matar os piolhos, carunchos e carrapatos. Depois ia até o pomar e pegava umas laranjas para o café da manhã. Pegava umas bananas caturras ou nanicas e ia para a cozinha fazer o café-de-macho. Tomava uns goles do café-preto, fumava um cigarro de palha e ia acordar os caipiras.

Os homens se demoravam na bica, lavando os braços, as mãos e o rosto. Vestiam-se pobremente, remendados e iam para o alpendre onde tomavam o café com broa de fubá. O fazendo não, este tomava o café com queijo-minas, fresquinho tirado da grande despensa .

Então, nem bem raiva o dia, com o sol escaldante, os roceiros partiam para o campo. Lá começavam a empreitada de roçar, bater o pasto; capinar o milharal, colher o feijão-de-corda e catar o café. As mulheres chegavam um pouco mais tarde. As que tinham filhos em amamentação chegavam as 9:00 horas. O sol empinava-se no infinito. Às 10:00 horas servia-se o almoço. Sentados embaixo do pé de jatobá ou de manga os caipiras almoçavam alegremente contando causos.

Terminado o almoço voltava-se à faina. O sol mais quente ainda já no alto da abóbada. Os homens suando a camisa listrada e remendada. As mulheres com suas saias rodadas e bordadas entoavam alegre música regional: Maria, Maria a tarde principia... Os homens imitavam as mulheres e cantavam: Galo canta macaco assobia... O galo é pedrez, você é freguês... Ai, ai, ai, Maria... Você canta como uma cotovia... Ai, ai, ai Maria... O seu nome principia na palma da minha mão...

Então, para amainar o suor os homens paravam, estacionavam as ferramentas. Uns colocavam o cabo da enxada ou da foice debaixo do cotovelo. Tiravam o fumo, o canivete e a ¨paia¨ do bolso. Picavam o fumo, enrolavam o cigarro, o acendiam e pitavam ao gosto.

Aí... Aí... O fazendeiro se achegava e dizia: seus capiaus vamos trabalhar... Nada de pitação no serviço. Mas os caipiras respondiam: estamos descansando. E o fazendeiro: Nada disso. Primeiro a obrigação, depois a pitação. E os homens: Nós vamos embora. E o fazendeiro: Se forem embora eu não pago vocês... Não dou milho nem dou feijão... Carne nem pensar...

E eles terminavam de pitar... E os homens recomeçavam a faina rural, entoando novamente a cantoria: Ai... Ai... Maria...

E assim os homens e as mulheres trabalhavam o dia inteiro. À tardinha, antes do sol se pôr, todos recolhiam as ferramentas ao ombro e voltavam a casa, sempre tagarelando. Contentes, felizes por mais uma jornada cumprida e produtiva.

E a vida continuava calma, feliz e abençoada por Deus e a virgem Maria!

F I M

Luiz Limagolf