O ENTERRO DA VELHA MUQUIRANA
Numa região inóspita, num canto qualquer deste imenso sertão brasileiro existia um lugarejo, era uma pequena pousada por onde passavam os caixeiros viajantes e outros que vinham da cidade grande com destino ao interior e vice versa, valendo lembrar que naquele tempo as viagens eram morosas e se fazia geralmente em lombo de mulas e cavalos ou carro de boi e que muitas vezes demoravam até uma semana de viagem para percorrer uma distancia que hoje se faz em algumas horas por modernas e vias pavimentadas. Conta-se que a dona do estabelecimento era uma mulher rude, viúva sem filhos porem bem situada na vida, era uma pessoa de difícil relacionamento, muito econômica e muquirana, não se dava a solidariedade para com os mais necessitados, tanto é que tinha uma empregada que zelava de toda a casa, porem era determinantemente proibida de fazer qualquer agrado ou dar qualquer tipo de esmola ou adjutórios aos pedintes que por ali passavam.
Diante de tal ordem da patroa, quando algum mendigo passava por ali, a patroa já saia na porta e de lá mesmo os despachava com palavreado de baixo escalão e a empregada muito caridosa, não se conformava com essa atitude e embora desobedecendo as ordens da patroa, sempre tinha qualquer coisa para comer as escondidas e chamando o pobre infeliz, os servia pela pequena janela de seu quarto, saciando assim a fome de todos os andantes desprovidos que por ali passavam.
Certo dia a patroa morreu e devido a mesquinhez da velha, poucas foram as pessoas que passaram a noite guardando o seu corpo e na hora de sair o enterro foi um deus nos acuda, pois o seu caixão não passava pela porta devido ao tamanho descomunal, detectado o problema saíram em busca de solução e que parecia mais viável seria demolir parte da parede da casa para a remoção da defunta, porem a empregada sugeriu que saíssem com o caixão pela janela.
A proposta foi recebida com ironia, os risos foram evidentes pois como poderia acontecer tal coisa se a abertura da janela era menor que a da porta, o caixão com certeza não passaria por lá, os questionamentos foram contraditórios, porem ela porem insistiu.
__ O caixão somente passara pela janela do quartinho da despesa.
Não se contendo com a proposta descabida da mulher, um dos homens questionou:
__ Mas como? Se a janela é mais estreita que aporta!
Com tamanha convicção e justificou
__ Pois ela não deixava ajudar ninguém porem pela janela muita ajuda foi dada e tenho certeza que somente por lá ela sairá.
Diante de tal argumento e, entre demolir e parede e passar o caixão pela janela, decidiram tentar a segunda opção e para espanto de todos, foi pela janela que saiu o caixão levando o corpo da velha muquirana rumo ao cemitério.