O CHOFER E O CAIPIRA

Perdido sertão afora, um belo carro Ford Landau de cor preta corria por aquele estradão afora, atrás ia deixando um rabo de poeira que levantava do leito ressequido da via de terra batida. Seria por ventura o Seu Prefeito, o Doutor Delegado da cidade grande, algum deputado ou políticos interesseiros que em épocas de campanha política lembram dos mais pobres e esquecidos deste pais.

Entre todas as afirmativas, quem poderia decifrar tal enigma?

Ali naqueles confins de meu Deus só tinha caipira, homem rude da roça, rústico na sua maneira de ser, mal sabia desenhar o seu nome, pegar na caneta, isso é coisa dos doutores da cidade ou pro vendeiro que anota as compras na nas cadernetinhas, ele, homem trabalhador do campo sabia muito bem o tempo de semear o arroz, o milho, o feijão das águas, o feijão das secas, conhecia como ninguém as fases da lua, a época da poda da parreira, do corte de lenha ou da madeira para maior resistência usadas em determinadas construções do campo, sim ele era um homem do campo, conhecedor dos fenômenos meteorológicos que a natureza por antecedência anuncia, assim saracura cantando a tardinha ou o sol se pondo encobertos aos domingos é sinal de seca das brava, o grito dos bugios na mata na boquinha da noite, o sal umedecido no saleiro ou redemoinho se formando no espigão e descendo rumo ao ribeirão são sinais de chuvas em breve com certeza.

Assim, na simplicidade e humildade vivia o homem na roça, coisas mais complicadas, era coisa que ele, pobre camponês nem se atrevia a responder ou se respondia, respondia com com ponderações e naquele dia, o capiau que está carpindo sua roça de milho a beira da estrada, fica maravilhado quando escuta um barulho nada comum naqueles tempos e seus olhos deparam com o automóvel que brilhando aos raios solares vem pela estrada e com toda certeza passaria bem perto, uma raridade naqueles confins e fica boquiaberto quando o carro para a alguns metros, o chofer orientado por um homem de terno que esta confortavelmente assentado no banco de trás, sem descer do veiculo porem, de forma educada, solicita uma informação:

___ O Senhor poderia me informar se esta estrada vai pra Roseira?

O Caboclinho bem sabia que Roseira era uma cidade de grande porte que ficava a quase uma centena de quilômetros daquele ponto, ele matutou, , se apoiou no cabo da enxada, observou bem o automóvel de cabo a rabo, num misto de indignação e admiração pela pergunta, respondeu:

___ Oi Dotô, se ela vai pra Roseira, num sei dizê pro sinhô não, só sei qui se ela fô, hara! mais vai fazê uma baita farta pra nois, sô!

Sem entender nada, o motorista dá partida no veiculo, acelera e segue viagem, o caboclinho desconfiado e pensativo com o que acabou de ouvir, também não entendendo nada, tirou um cigarro de palha de trás das orelhas, e enquanto pitava, olhava o carro que despareceu em meio a nuvem de poeira.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 10/08/2011
Código do texto: T3152436
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