CADÊ O MEU DINHEIRO
Eram tempos diferentes aqueles, o sertão estava sendo desbravado e a tecnologia que hoje conhecemos naquele tempo, nem pensar. O homem morava no campo, os de mais posses tinham casas e as vezes até algum conforto porem o meeiro ou arrendatário levava uma vida sofrida, muitos moravam em casebres de barrote e cobertos de sapé.
O dia na roça começava aos primeiros raios do sol e ao escurecer o homem já estava usufruindo do seu merecido repouso, não tinha a televisão, o radio era coisa dos ricos, assim sem ter o que fazer, mal a noite chegava, o roceiro já estava na cama para o merecido descanso sempre pensando no novo dia de trabalho que viria ao raiar do dia. Ao povoado raramente iam pois as compras era feitas ali mesmo na venda do bairro, onde encontravam quase tudo o que careciam, desde querosene para as lamparinas, o sal, o açúcar e as vezes até fazenda para suas vestes eram encomendadas ali na venda e a noite era um mistério para o camponês, assim não são raras as estórias de almas penadas vagando sobretudo nas noites escuras do sertão, tempo propício para sua aparições, eram luzes vagando ao leu, um grito descomunal na noite adentro, barulhos que ninguém reconhecia de onde vinham, assim o sertanejo era fértil em seu pensamento lendário e alem do mais, os coronéis da época fizeram surgir na mente do povo certas crendices, mais em proveito próprio do que em beneficio do humilde camponês, entre os quais, que nunca se deve enterrar dinheiro para guardá-los pois se a morte chegar de surpresa, a alma não terá descanso enquanto o tesouro estiver enterrado.
Verdade ou simplesmente crendices do povo, me contou um caboclo autentico, ancião cheio de experiências e vivencias no sertão, que em certo lugar, toda noite escura uma luz aparecia no espigão, a beira de uma estrada, ziguezagueando de um lado para outro como que procurando alguma coisa perdida naquele local ermo e deserto, a aparição se repetia por noites seguidas e todo morador tinha pavor de passar por aquele trecho de estrada em horários avançados da noite porem certa noite, inesperadamente ele topou com a dita cuja luz, contou que a luz parecia flutuar no ar, ninguém por perto e mais movido pelo medo do que pela coragem, perguntou aquela visão: O que procuras?
Uma voz rouca e forte se ouviu na noite escura:
___ Cadê o meu dinheiro?
Inexplicavelmente a luz se apagou e ele sem entender nada e morrendo de medo voltou correndo para casa, pulou na cama, cobriu até as cabeça e disse que na realidade nem sequer conseguiu dormir aquela noite pois nunca tinha passado por tamanho sufoco tanto é que no dia seguinte foi à vendinha do bairro onde narrou ao fato em busca de uma resposta e um velho morador, conhecedor de rezas e mandingas resmungou:
___ Pois óia meu rapaiz, vosmicê num pricisa fica abismado naum, isso nada mais é sinão a arma penada do munheca Totonho!
Totonho foi um homem muito conhecido na região por ser muito “pão duro” e até mesmo egoísta, vivia solitário num ranchinho lá no espigão, bem a beira da estrada. Diziam os antigos moradores da região que ele teve três filhos mas como era muito miserável e todo dinheiro que ganhava escondia, enterrando em um local secreto, o filhos foram embora de casa assim que completaram a maioridade e ninguém soube ao certo para onde, a mulher morreu e ele ficou sozinho no rancho por anos a fio, mas certo dia inexplicavelmente o ranchinho pegou fogo e no outro dia encontraram o pobre homem carbonizado entre as cinzas.
Como era uma manhã de domingo e a vendinha estava movimentada, imediatamente a rapaziada que ouviram a história, mais por diversão do que por preocupação, saíram em algazarra e foram explorar nas proximidades onde ainda existia alguns vestígio do antigo casebre e não é que acabaram achando um velho baú de ferro fundido enterrado na flor da terra e dentro dele, uma porção de moedas antigas, tempos do mil reis, porém sem valor para os tempos atuais, foi uma verdadeira aventura de caças ao tesouro, porem dizem que a partir de então, a luz nunca mais apareceu por aquelas bandas. Será que o munheca do Totonho agora descansa em paz!