O DEFUNTO BÊBADO

Estávamos no inverno, numa noite fria, a chuva fina e impertinente caíam fora de época, poucos transeuntes se atreviam a caminhar pelas ruas encharcadas.
Passava das vinte horas e como não havia mais clientes a serem atendidos preparava-me para fechar a loja.
Um carro parou à porta era meu irmão com a família. Eu o atendi, apenas uma porta permanecia aberta por onde entrava uma correte de ar frio quase gelado.
Ao sair o mano me chamou atenção dizendo-me que havia alguém caído na rua próximo à esquina da praça. Juntos, atravessamos a rua para averiguar de quem se tratava. Era um conhecido, alcoólatra inveterado morador algumas quadras a frente. Com aparência mórbida e uma palidez fúnebre dava-se a impressão que já estava falando com São Pedro acertando suas contas. Meu irmão o examinou constatando que ainda respirava. Decidimos levá-lo a sua residência. Minha cunhada desceu do carro com as crianças, eu abri uma caixa de papelão forramos à poltrona do carro e o colocamos sobre ela, uma vez que o pobre homem estava todo enlameado pela chuva. Na seqüência meu irmão foi fazer a bendita entrega. Neste ínterim chega um amigo e pergunta ao meu sobrinho Adiano de apenas cinco anos que curiosamente a tudo acompanhou. – Onde está seu pai garoto? – Meu pai... Ele foi lá ao cemitério! - A esta hora da noite o que seu pai foi fazer no cemitério? – Levar um defunto bêbado... Pode esperar que ele volte rapidinho! Vai só enterrar o defunto!
-Cumprindo a determinação de Deus, meu irmão que era o mais novo... Caçula de nossa família faleceu pouco tempo depois vitimado por um aneurisma cerebral. Um duro golpe para nossa família. Deixando órfãos seu três filhos, que graças a Deus seguem o exemplo do pai e apoiados pela mãe que eu, a considero como uma heroína; eles estão vencendo com dignidade os obstáculos pelas trilhas da vida, traçadas pelo nosso pai celeste. E, o defunto bêbado continua vivinho da silva, e bebendo todas que encontra pela frente. São os desígnios traçados por Deus, as provações do destino e temos que aceitar.
 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 01/08/2011
Reeditado em 01/10/2018
Código do texto: T3133076
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