O ARCO IRIS
O rapaz era um índio guerreiro, jovem, forte e destemido que enfrentava os inimigos de cabeça erguida, porem assim que dominado pelo homem branco, foi retirado da tribo, do meio de seu povo e forçosamente tentou se adaptar as normas do dominador mas, indefeso por abandonar suas raízes, se enveredou pelo lado do álcool, perdendo completamente a sua dignidade e identidade indígena até que certo dia, depois de tomar algumas doses a mais na venda, deixou seu instinto selvagem falar mais forte e, arrumou uma arruaça com uns capangas mal falados, acabou sendo brutalmente assassinado por eles, deixando a pobre índia viúva e com um filho recém nascido para criar.
Perdido no meio da mata, naquele lugar onde Judas perdeu as botas, distante do povoado, abandonado pro seu povo, embora já domesticados pelo homem branco, viviam ela e o seu curumim agora com aproximadamente seis anos de idade, em uma tapera coberta de sapé e paredes de barrote, costume já herdado do ditos civilizados que impuseram a sua tradição àqueles silvícolas.
Viviam em petição de miséria, e só sobreviviam por conta da ajuda dos vizinhos que não deixavam faltar o essencial para sobrevivência já que levados pela nova forma de viver do homem branco, perderam quase que completamente suas tradições exceto a de contemplar a natureza que deus lhes deu, e isso homem algum conseguiu roubar de suas vidas, assim não era raro presenciarmos os dois, mãe e filho correndo pelas matas, tomando banho no pequeno regato que corria a alguns metros de seu casebre e a ficar horas e horas a contemplar o céu, ora se maravilhando com o luar, ora com medo de uma estrela cadente e assim por diante.
Certa tarde chuvosa após uma estiagem, fomos visitar a cabana com o propósito de levar alguns mantimentos, ao chegarmos encontramos os dois, mãe e filho no terreiro olhando para o céu, contemplando um belo e nítido arco Iris e nem com a nossa chegada este momento foi quebrado, a beleza da natureza parece fazer parte do ser selvagem e o pequeno menino índio começou a interrogar a mães sobre aquela maravilha que seus olhos viam.
Lembrando da breve catequese dos brancos, disse a bondosa genitora que era Papai do Céu bebendo água no ribeirão, o pequeno curumim, curioso como era pediu para ir lá ver a boca de Deus bebendo da cristalina água, a carinhosa mãe sabia muito bem que jamais alguém conseguiria aproximar do Arco Iris mas temendo a teimosia do menino em se aventurar por aqueles matagais, ralhou repreendendo severamente dizendo que seria muito perigoso pois se chegassem muito perto, Deus poderia engoli-lo juntamente com a água.
Com a inocente curiosidade de uma criança, perguntou a mãe o que aconteceria se o arco Iris o engolisse e a índia respondeu que se isso acontecesse, Deus vomitaria do outro lado, porem seria transformado em uma menina, o curioso indiozinho deu um passo atrás, se agarrou barra da saia da mãe e diante de tal perigo, se aquietou.
Tempos depois sumiu daquele pedaço de chão a índia e o menino, ninguém ficou sabendo o rumo tomado, talvez tenha embrenhado sertão adentro a procura de sua gente, verdade é porem que a lenda se espalhou e toda criança tinham medo de chegar perto do arco Iris.